☼ All One Now ☼

By giving and sharing the best of ourselves we´ll all rise up ☼"Quando souberes o que É Éterno saberás o que é recto"
(Tau-te-King, 16)


domingo, 24 de agosto de 2008

: : Boas Férias : :


boas férias!

sábado, 23 de agosto de 2008

: : desilusões profundas, esperanças renovadas : : do please skip the mud : : beyond the ordinary


Já aqui o disse que prefiro confiar cegamente do que andar, constantemente, desconfiada, pois, no primeiro caso, sofro só o momento da desilusão, no segundo, sofro constantemente. As energias negativas, das quais faz parte a desconfiança, calcinam-me a existência, prefiro renegá-las, abrir o coração e conceder oportunidades. Esta dinâmica tem-me feito conhecer maravilhosos seres humanos, com uma alma limpa, elevada, o que é sempre uma Verdadeira Bênção. De facto, as pessoas que vamos conhecendo não têm culpa alguma da falta de carácter de quem nos magoou no passado.

Todavia, a situação complica-se quando a afeição começa a aflorar ao espírito, a deflacionar os nossos níveis de resistência e de percepção de pequenas irregularidades denunciadoras de que o diamante que pensávamos ter à frente, ainda que em bruto, na verdade, é somente mais um pedregulho daqueles que não só nos arranham os calcanhares, como nos ferem as palmas dos pés e nos dilaceram o coração...

Enfim, ossos do ofício de viver num mundo, tendencialmente, autocentrado, materialista, sem espiritualidade alguma que se veja, nem respeito pelos sentimentos dos outros, no qual as pessoas valem mais pela sua aparência do que pela sua essência, em que anda toda a gente mergulhada num egocêntrico pragmatismo patológico, porque excessivo, não raro utilizando simplistas estereótipos para avaliar toda e qualquer alma com que se cruzem neste percurso.

Bem, mas como eu dizia num outro post, um vencedor cai e levanta-se, sempre com a cabeça erguida, ainda que lhe doa a alma, é só mais uma experiência no seu arquivo relativo ao conhecimento da vulgar natureza humana. E como eu tenho um verdadeiro asco à vulgaridade! É que, se formos a matutar no assunto da forma mais racional que nos é permitida, se digitarmos, rapidamente, no nosso computador, a palavra alma, facilmente escrevemos lama! E, quando deparamos com um pequeno charco de lama o melhor é saltarmos, não vá a matéria macular-nos o percurso que desejamos limpo de impurezas infectas! Do live "beyond the ordinary" and vulgarity, pela "honra dos heróis" (slogan e título de dois filmes)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

: : wall.E : : o poder de um Amor Sublime aliado a uma proactiva capacidade crítica individual : :

De vez em quando, lá vou eu com a minha menina ver um filme para crianças (houve um tempo em que eram os únicos que via, sei de cor e salteado todas as versões do Shrek, as músicas da Ariel, enfim, o que "faz parte do programa" de uma maternidade vivida com muito Amor, orgulho e dedicação, como diz um grande amigo nosso...). De qualquer das formas, sempre adorei BD e animação (computorizada ou não) e muitos dos meus heróis de infância, que permaneceram como âncoras mnemónicas simbólicas, fazem parte deste maravilhoso universo.









Ontem, vimos o wall.E e adorei esta nova película da Pixar em parceria com a Disney- a história de uma pequeno robot que ficou esquecido na Terra e que, com muita criatividade e luz interior, criou um poético mundo próprio num ambiente desolador circundante, tendo como única amiga uma barata, como sonho as estrelas, apenas vislumbradas quando da momentânea dissipação da poeira tóxica, arriscando a própria vida (sim, porque mais do que qualquer outro ser, este pequeno robot revela uma vitalidade invejável), ao lutar pelo Amor de Eva, uma adorável sonda que não pertence ao seu mundo, comoveu-me deveras. Adorável criatura que vem catalisar a disrupção da sua pragmática rotina diária- a construção de enormes arranha-céus de sucata-, apenas quebrada pela colecção de singelos objectos que vai recolhendo no meio do lixo e que guarda no seu lar, um barracão que compartilha com o amistoso insecto e onde guarda uma das suas relíquias- um musical dos anos 50 protagonizado por um par apaixonado, afinal, um dos primordiais motores da humanização de wall.E, materializada num comovente aperto de mãos.



Notei, também, outros pormenores deliciosos neste filme: os humanos que partiram na nave vivem numa sociedade hedonista levada ao extremo, onde a total computorização da existência lhes facilita de tal forma a vida que a obesidade os remete a um leito electrónico ambulante, perdendo a capacidade de locomoção vertical, vivendo as relações e as sensações unicamente de forma mediada. Quase que me arrisco a afirmar que os autores se inspiraram, certamente, na obra fenomenal de Aldous Huxley- O Admirável Mundo Novo- ou, talvez, em alguns fenómenos que nos ameaçam a todos, caso sucumbamos absoluta e cegamente aos seus encantos desumanizantes, apesar de, aparentemente, apelativos.

E quais são os elos que levam o caos a toda esta ordem asséptica de um cosmos vazio apenas canalizado para um prazer minorizante, uma vez extremado? Uma planta, uma simples planta e O Amor de Wall.E e Eva. A coadjuvação entre a fotossíntese e um Amor Sublime porque incondicional são o motor de uma fenomenal disrupção vital.


Quando da luta com o despótico e sistemático computorizado leme, o comandante, cuja farda lhe está já tão reduzida que a usa como xaile, após saber por Eva que a Terra já está habitável, enuncia algo admirável, porque essencial na sua simplicidade: "Eu não quero sobreviver, quero viver".

Noto, igualmente, o pormenor delicioso do papel disruptor dos robots disfuncionais, remetidos a uma espécie de sanatório virtual, que, coadjuvando a revolução instigada pela existência da pequena planta e pelo Amor que une wall.E e Eva, colaboram na reedificação da verdadeira, mas esquecida, missão de toda aquela gente remetida a uma obesidade mórbida desvitalizante e a uma alienação colectiva minorizante: regressar à Terra, à naturalização, enfim, a uma essencial humanização. Ironia das ironias- são estes assistémicos robots, criados para servir os humanos, remetidos a um processo de gradual, mas intensa, desumanização, os motores do seu regresso às origens biológicas.
Afinal, intemporalmente, sempre foram os assistémicos os grandes empreendedores, os móbeis da evolução da humanidade quer no campo religioso, quer no científico, quer no político, quer no artístico, que esteve sempre nas mãos da diferença individual que cativou a regularidade asséptica sistemática gregária, caso contrário, ainda estaríamos, hoje, de cócoras a comer carne crua dentro de uma caverna infecta plena de sombras.


Este filme é, assim, todo ele um muito simples mas ternurento manifesto humanizante: só a capacidade crítica activa individual, um Amor Sublime e a vitalidade que, inexoravelmente, nos inculcam, conjugados ao respeito pela vida e ao encanto pela diversidade alheia, poderão salvar sujeitos alienados pelos apelos sistemáticos e ilusórios da matéria. Fiat lux!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

: : quando a chama não brilha nem trilha : do please come to Portugal we do make miracles happen for we easily turn real dumbies into sacred geniuses


Num país infantilizado, onde domina uma intemporal promiscuidade, completamente aberrante porque profundamente infértil, entre as esferas privada e pública, que catapulta o culto da mediocridade no seu esplendor, onde, frequentemente, alguém que se posicione profissionalmente por força dessa teia de relações pessoais, não raro, se julga com autoridade para subestimar outrem que vença única e exclusivamente por mérito próprio, individual e intransmissível; neste tipo de país, não admira que atletas de alta competição, mas baixa resiliência, vulgo fibra, decidam fazer uma birra e abandonar o desafio, patrocinado por dinheiros alheios, apenas porque sentem a sua crista diminuída, face ao verdadeiro espírito de competição, cultivado por culturas meritocratas, onde valores como o trabalho árduo, o esforço, a persistência, a humildade perante a derrota e o fair-play se revelam cruciais num vencedor.

Estranha e estupidificante forma de vida esta que concebe como vencedores os vencidos e como vencidos os verdadeiros vencedores, não conseguindo discernir que estes últimos encaram as derrotas e os obstáculos conjunturais não só como desafios, como até enquanto oportunidades...A incapacidade endémica colectiva para a projecção a longo e não a curto prazo é no que dá...O deficit de corredores de fundo e a inflação de dandies mimados e, por vezes, até retardados pela super-protecção, elevados a heróis adolescentalizados, autocentrados, patologicamente egoístas, egocêntricos e hedonistas, invejosos, preguiçosos, efémeros, levianos, inexoravelmente descartáveis, sem qualquer espírito de brio, enfim, dotados de um índice de mediocridade que até dói, o comprova...


E o que mais me assusta é o facto de a autoridade da mediocridade assentar ela própria na obstaculização à excelência por mérito, uma vez que esta última actua como espelho da sua própria incompetência e isso a arrogância adstrita à mais básica ignorância nunca o poderá suportar....

Como tal, não admira que estejamos perante um viveiro de autênticos medíocres emplumados, um habitat propício ao desenvolvimento de verdadeiras nulidades, não raro, assumidas publicamente como sumidades...Até poderíamos criar um slogan que catapultasse esta nossa intemporal tendência além-fronteiras: "If you simply don´t believe in no pain no gain do please come to Portugal we do make miracles happen for we easily turn real dumbies into sacred geniuses..."

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Justiça : : uma questão de princípios e não de interesses próprios

Como Mãe, hoje, sinto que os princípios sólidos que os meus Pais me transmitiram e que constituem a verdadeira e a mais valiosa herança que me deixarão enfrentam como obstáculo fulcral uma sociedade individualista, onde a autocentração, por vezes, quase patológica, e fonte de tantos males, norteia a vivência de milhares de seres humanos que julgam ser esse o caminho para o sucesso, que entronizam, simplista e ilusoriamente, como caução sine qua non de uma felicidade prêt-a-porter.
Claro que um dos factores da felicidade é o sucesso sócio-profissional, ninguém o põe em causa, mas como tudo na vida, a receita deste estado de graça, intemporalmente almejado pela humanidade, não requer só um ingrediente. E, ainda bem, pois permite-nos vislumbrar mais do que uma dimensão das nossas vidas e anseios multifacetados. A versatilidade dessse desdobramento em vários papéis diários e em projectos futuros distribuídos por várias áreas da nossa existência permite-nos uma criatividade vivencial de que não usufruiríamos se ainda estivéssemos convictos da unicidade e universalidade racionalista que, durante tantos séculos, norteou a autoconsciência humana.

Todavia, foi essa análise racional universalista que conceptualizou princípios enquanto valores não tão maleáveis e corruptíveis como os particulares interesses próprios.

Thémis (Iustitia)


E vem toda esta conversa a propósito de uma singela questão que, no outro dia, a minha filha me colocou: "Mãe, o que é ser justo?". Perante tais perguntas infantis que nos põem um pouco siderados quanto à possibilidade de lhes darmos uma resposta precisa, objectiva, simples e explícita, com base no seu conhecimento empírico, mas também, com a consciência de que, se há algum aspecto que não escapa a estas mentes inocentes, mas muito mais abertas à inovação que nós, já modelados por décadas de experiências que nos toldaram, em maior ou menor grau, conforme as características de cada um, a visão do mundo que nos rodeia, são as regras.

Bem, e que é que eu respondi? Bem, com a ressalva de que lhe tentei explicitar o conceito com base numa linguagem mais simples em termos formais, disse-lhe que uma pessoa justa é aquela que respeita a liberdade, o bem-estar, o espaço simbólico e físico e a existência alheios como os seus e assume a responsabilidade das suas palavras, actos e omissões, assim como exige que os outros assumam a sua quando provocam danos a alguém pela mesma via. Ser justo, minha filha, é não tentarmos imputar aos outros a culpa que nós sabemos, em consciência, ser nossa; mas ser justo, minha filha, também, é defendermos um direito inalienável de qualquer ser humano: o da legítima defesa perante uma agressão, seja ela verbal ou física. É um direito constitucional estipulado com base em princípios universais. Em linguagem infantil (para os não crentes, que isto das infantilidades quanto às questões religiosas tem, também, o que se lhe diga): minha filha, Jesus Disse-nos para Darmos a outra face à bofetada do outro, porém, se a deres sempre, correrás o risco de fazer com que agressores natos continuem a pensar que podem impor a sua animalidade aos outros sempre que querem. Nós, como cristãos, nunca atacamos, mas temos o direito e o dever de nos defendermos. E lembrei-lhe uma frase que um padre meu amigo, certo dia, me repetiu, em jeito de conselho: "Minha querida, até Jesus disse: "Sede mansos como as pombas, mas prudentes como as serpentes". Sim, de facto, a máxima "Ama o Próximo como a ti mesmo" implica que exijamos de nós aquilo que exigimos aos outros, numa relação de bivalência.


Apenas a partir do séc.XVI, Thémis passou a ser representada, ironicamente, com a venda, invenção atribuída a artistas alemães.

A noção de justiça implica, assim, um distanciamento do sujeito de si próprio, i.e., dos seus interesses particulares e dos seus instintos mais básicos, um processo de descentração, uma grande capacidade de auto-ironia, que obstaculizem a actualização de um egocentrismo que funcione como venda que, neste contexto, não significa, de todo, isenção e imparcialidade, mas desresponsabilização. Ser-se justo não é culpar os outros dos erros que cada um de nós comete, ser-se justo é assumi-los, mas exigir que os outros os assumam, igualmente, não por retaliação, mas por princípio. Porque a actualização do conceito de legítima defesa não funciona só como uma medida de coacção, mas, essencialmente, de prevenção, i.e., como um acto pedagógico- mostrar os limites a alguém é lembrar-lhe que a sua liberdade acaba aonde a do outro começa, sejamos nós esse outro ou não, que uma má acção legitima uma reacção proporcional, embora de teor diferenciado (noblesse oblige), e que o respeito pelo próximo implica, antes de mais, o respeito por nós mesmos. Isto porque os indivíduos muito instintivos, que não filtram as suas pulsões mais básicas pelo coador da consciência, não raro, tendem a ser muito pavlovianos- só reagem a estímulos condicionados.
Por isso, aconselho: exija respeito e justiça de quem quer que se cruze consigo nesta viagem que é a vida, pois, ainda que muita gente se julgue intocável e deificada e que sobreponha sempre os seus interesses aos do próximo, recolhendo-se, com frequência, na auto-vitimização como reflexo da sua recorrente desresponsabilização, quando se defronta com justas reacções perante as suas más palavras ou acções, mais ou menos camufladas, o facto é que não o é. Só a legítima defesa o (a) fará reflectir, nem que seja só por uns breves segundos. Mais não seja, para a próxima, pensará que, afinal, a suposta intocabilidade que o ilusório reflexo do lago lhe devolve, com frequência, por força do despotismo do seu ego exacerbado, é um bluff e, certamente, que se tornará, pelo menos, mais prudente.
Deveras, pacifismo não é, de todo, um sinónimo de passividade, assim como assertividade não é de agressividade e humildade de subserviência, apesar de, hoje, se desvalorizar esta penúltima em prol de uma arrogância própria de quem confunde acumulação de conhecimentos com sabedoria. Sinais dos tempos e da intemporal prepotência da ignorância ou da falta de auto-estima, exteriorizadas em apócrifos complexos de superioridade, facilmente desconstruídos.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

: : lições de O Segredo : : a visualização dos sonhos : :

Garanto-vos que uma das premissas da obra de Rhonda Byrne está correctíssima: a visualização recorrente dos nossos sonhos faz com estes se materializem...

Aqui fica um repost de algo que já tinha escrito sobre a obra:


Rhonda Byrne ©


Tenho lido várias críticas, umas construtivas, outras completamente destrutivas, sobre o best seller de Rhonda Byrne O Segredo. Tenho, igualmente, lido interpretações teóricas díspares da mesma obra: umas revelam uma leitura profunda da mesma, outras uma desconcertante superficialidade sobre o que consideram light, talvez, advinda do desconhecimento sobre os princípios esotéricos milenares que serviram de inspiração à autora, embora expressos de forma simples e despretensiosa. Os aspectos formais do livro não ajudam, de facto: (a) a sua apresentação demasiado esteticizada e mercantil, que leva muito boa gente a tomá-lo pelo seu invólucro, julgando-o uma obra meramente comercial, minorizando totalmente o seu conteúdo; (b) o discurso fragmentado, pleno de testemunhos de várias figuras mais ou menos públicas, que conduzem um leitor mais incauto a julgar estar perante um receituário digest sobre o sucesso, enunciado por alguma dona-de-casa ociosa e abastada, agora dedicada à literatura light, ou por alguma celebridade, superficialmente, devotada a alguma crença de pacotilha, que minoriza o esforço da escrita pela acumulação de palavras alheias. Leitor mais incauto que antevê esta figura feminina estereotipada coadjuvada neste seu capricho esotérico por alguns dos seus amigos mundanos que, por acaso, detêm uns títulos académicos, talvez até ficcionados, como garantia da fiabilidade do projecto. Malvadas vãs aparências que nos iludem (quase) sempre! Mas que podemos fazer? Estamos sócio-culturalmente programados para julgar o mundo e os outros pelos seus sinais exteriores e, frequentemente, subestimamos o que os nossos olhos tomam, levianamente, por superficial e oco, porque não se enquadra nos nossos quadros mentais esquadrinhados por classificações redutoras.


Deste modo, não raras vezes, os nossos rituais quotidianos consuetudinários de reconhecimento do pensamento e da vivência alheios orientam-se por clichés, por preconceitos, mecanismos muito estreitos a raciocínios simplistas e a uma necessidade constante de reforçarmos a nossa auto‑estima pela diminuição do outro. E quem necessita de diminuir alguém para inflacionar a sua auto-estima entra sempre num ciclo vicioso pernicioso, i.e., nunca a reforça verdadeiramente, antes cai num emaranhado pleno de negativismo que o conduz a um deficit de amor-próprio, cada vez mais difícil de ser debelado. Aliás, a discriminação é uma dinâmica que revela, per se, uma auto‑estima deficitária. Quem gosta de si, quem se respeita, gosta e respeita, verdadeiramente, (de) os outros, e, embora possa com eles não se identificar ou discordar, não tem medo da diferença, seja ela intelectual, étnica, filosófica, entre outras, pelo contrário, encara o contacto com a diversidade como pólo de enriquecimento pessoal. Infelizmente, o unanimismo e o seguidismo são caminhos mais fáceis e confortáveis, daí que tenham tantos adeptos, sendo denunciadores de uma renúncia do sujeito a si, às suas convicções pessoais, à sua capacidade de olhar o mundo de forma díspar e individual. É que olhar o mundo de forma particular e enunciar essa visão individualizada não é fácil e traz-nos sempre bastantes fricções, não raras vezes, despoletadas pela petulância dos unanimistas convictos, escudados na quantidade de adeptos das suas ideias mais ou menos massificadas, como caução da sua validade e pertinência. Associa-se a verdade ao número e, paradoxalmente, desqualificam‑se indivíduos e produtos culturais exactamente pelo critério numérico. Estranho raciocínio dúbio!




Mas voltando ao cerne da questão, na minha modesta opinião, O Segredo é uma obra que, na sua extrema simplicidade, consegue atingir o que só as boas obras conseguem: a ambiguidade da leitura. Ambiguidade reflectida nas várias dimensões interpretativas da obra, podendo-se, simplisticamente, dividir os seus leitores por dois grandes grupos: (a) os cépticos - os que crêem estar perante mais um livro de auto-ajuda facilmente digerido pelas massas incultas e manipuláveis, com claros propósitos comerciais; (b) os crédulos. Este último grupo subdivide-se em mais dois: (i) os que se sentem fascinados pela obra como inspiração para o seu sucesso individual, acreditando piamente que, se actualizarem a “lei da atracção”, projectando os seus pensamentos positivos para a recorrente visualização de um carro último modelo, umas férias num destino luxuoso e uma casa na Quinta da Marinha, conseguirão alcançar, certamente, a materialização das suas quimeras. A estes chamar-lhes-ei, sem qualquer tipo de preconceito, os crédulos materialistas. O outro grupo designá-lo-ei pelos (ii) crédulos espiritualistas. Estes encaram a leitura da obra de Rhonda Byrne como um alento a redescobrirem ou a prosseguirem a(s) sua(s) efémera(s), mas crucial (is), marcha(s) por esta viagem a que se convencionou chamar vida, sabendo que a milenar "lei da atracção" (pensamentos positivos atraem pensamentos positivos, materializando-se em acontecimentos da mesma índole) se une à lei da acção/ reacção (a energia adstrita a todos os nossos pensamentos e acções retorna sempre à fonte, i.e., qualquer bom ou mau pensamento, qualquer boa ou má acção sem redenção, regressará ao seu autor). Deste modo, tentam actualizar os ensinamentos da obra centrando-se numa dimensão espiritual focalizada em objectivos que primam pela descentração e não pelo egoísmo (uma das energias mais negativas que existem, a par do medo).




Mas não querendo ser muito crítica, já me deparei com outro tipo de crédulos: (iii) os pseudo-crédulos: os que, aparentemente, retiram ilacções profundas do livro, mas demonstram uma dificuldade suprema em tornar prática a teoria. De facto, não é fácil, e hoje a facilidade é cada vez mais apetecível, tudo o que implique sacrifício ou grande esforço recebe logo o epíteto de “enfadonho”. É tão mais engraçado falar-se de conceitos esotéricos milenares com ligeireza, com alegria pós-moderna, sem a necessidade de se praticar o que se defende em discursos tão belos.
Mas, claro, apesar de ninguém ser totalmente coerente na prática com o que defende em teoria, há verdadeiras atitudes aberrantes que denunciam uma incongruência básica entre essas duas dimensões. E já diziam: Gandhi: “Acreditar em algo e não o viver é desonesto”; Bailey: “A primeira e pior de todas as fraudes é enganar-se a si mesmo. Depois disto, todo o pecado é fácil”; S. Cipriano: “Deus não escuta a voz, mas o coração”.Todavia, o busílis da questão não é falar-se ligeiramente de questões espirituais muito profundas, pelo contrário, o cerne do problema é quando, pela leviandade e pela não coerência recorrente, se deturpam mensagens que se afastam muito da mundanidade, degradando-as no seu (quase) contrário. Distinga-se, a propósito, ligeireza de simplicidade- a ligeireza, a leviandade, nada tem a ver com a simplicidade, que é própria de almas nobres, que se auto-questionam e dão relevância aos outros, sem dar demasiada importância a si próprios. Já a leviandade é própria de seres que vivem na e para a aparência, que se deslumbram com a banalidade e que rejeitam a profundidade, pois isso levá-los-ia a uma auto-análise que rejeitam, por medo de encararem o seu eu nu, sem adereços ou máscaras artificiais.


Mas o que tem isto a ver com O Segredo? A meu ver, tudo- pela prática daquilo que nos propõe conseguiremos, de facto, conduzir as nossas vivências para um percurso mais nobre e positivo, mas respeitando sempre uma condição transversal a todas as religiões ou filosofias esotéricas: a descentração e o claro respeito pelo outro. E, já agora, outro pressuposto que, também, revela a sua transversalidade esotérica: a abertura de espírito. Já aqui o disse, mas penso pertinente repeti-lo: a abertura de espírito é o que distingue a autêntica inocência da ingenuidade- inocente é quem, embora já se possa ter magoado muito com as vilezas mundanas, consegue manter uma certa candura quase infantil que lhe permite vislumbrar os vindouros sem o espectro das experiências negativas passadas; ingénuo é meramente aquele que não tem experiência de vida, nem as defesas que daí advêm. Um inocente é, acima de tudo, um indivíduo responsável, uma vez que, acima de tudo, defende e pratica a confiança no outro, embora tendo consciência de que se poderá magoar nessa entrega; um ingénuo engana-se porque a sua pouca experiência de vida não lhe dá outra alternativa. Daí o conceito de “inocência primordial” ser igualmente transversal a vários credos como condição basilar no percurso da evolução espiritual.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

: : da (in)submissão : : o medo : : uma das energias mais negativas e autodestrutivas


O medo, a par da inveja e do rancor, é uma das energias negativas com efeitos mais devastadores no sujeito que os cultiva do que propriamento nos objectos que os instigam. Enquanto causa/consequência de uma violência exógena mais ou menos explícita, o medo tolhe o sujeito, mina-lhe a vitalidade, conduzindo-o à passividade perante o ultraje, à desistência de ser e querer, ao desrespeito pela sua essência. Talvez por isso o mais cobarde dos agressores o manipule como caução do seu poder nefasto sobre a(s) vítima(s) que se lhe subjuga(m), através deste sentimento tão auto-aniquilador.

Os pensamentos negativos, quando recursivos, tendem, de facto, a materializar-se e lá os nossos maiores pesadelos se concretizam pelo efeito da lei da atracção. Quanto maior é a capacidade energética de um indivíduo maior será a devastação, mais poder terá para que os seus receios se concretizem de forma inexoravelmente aterradora.

Liberte-se do medo, dos receios, dos pavores, enfrentando-os, de cabeça erguida, a coragem não é ausência de medo, bem pelo contrário, para designar essa cirscunstância existe um termo apropriado- inconsciência-, a coragem é a capacidade que alguém detém para enfrentar com brio algo que teme, mas que não o paralisa, dignificando-se pela insubmissão libertadora.

Por falar nisso, o verbo temer faz-me sempre lembrar a expressão arcaica "temer a Deus" (um dos poucos casos em que, segundo a gramática tradicional, o complemento directo é antecedido de uma preposição...)- o Homem, de facto, tende, intemporalmente, a tentar explicar algo que escapa à lógica terrena pelo seu umbigo... Deus não Quer ser Temido, nem sequer o Merece, Deus É Magnânimo na sua Omnipotência, É, acima de tudo, Amor Sublime e Quem Deseja Ser Amado não Exige o medo como caução de algum laço afectivo que seja. Essa exigência é própria de quem não tem segurança em si, de quem deseja ser amado a qualquer custo e tem pavor à rejeição, à perda, de quem, antes de mais, deseja ser servido, deseja submeter, de quem necessita de purgar os seus próprios medos pela manipulação do terror alheio...Paz à sua alma, pois, julgando-se um possante implacável negro puma, não passa de um cobardezito ratito cinzento assustado com a sua própria impotência...

domingo, 17 de agosto de 2008

: : quando desprezamos diamantes por pedregulhos : :


De facto, por vezes, queremo-nos enganar a tal ponto, que passamos a ver facetas de diamante em meros pedregulhos, deixando-os entrar no nosso coração, desprezando os verdadeiros diamantes que temos o privilégio de ter ou de poder encontrar na nossa vida...Não se engane, se valoriza o que é raro e rejeita a vulgaridade, foque-se nos autênticos diamantes (há poucos, mas que os há há), os pedregulhos só nos minam a caminhada, são como as sombras, impedem-nos de ver a Luz, sugam-nos a energia.............
Também, acontece, por vezes, tropeçarmos em algo que parece um pedregulho e, deveras, se revela um diamante, ainda que por polir; outras há que o tropeção nos faz estatatelar, e muito bem, no chão para podermos ter os olhos postos no diamante que se nos mostra, ali, reluzente...
Lembre-se- se tiver o privilégio de encontrar um no percurso da sua vida, dê graças, rejubile, honre esse momento sublime- um diamante vale por todas as pedras da calçada que nos arranharam alguma vez os calcanhares...

sábado, 16 de agosto de 2008

: : dedicado ao Combustões, com profunda admiração : :

Buda, British Museum
Photo: Isabel Metello ©
Ao Combustoes, com profundas admiração e estima,
Hermann Hesse, Siddhartha: Um Poema Indiano, Cruz Quebrada, Casa das Letras, 2007, p.35.

Cap.: Gotama

"Govinda olhou com atenção para o monge de hábito amarelo, que em nada parecia distinguir-se de centenas de outros monges. E em breve também Govinda o reconheceu: era este. E seguiram-no e observaram-no. O Buda seguiu discretamente o seu caminho, mergulhado nos seus pensamentos, o seu rosto calmo não era alegre nem triste, parecia rir para si mesmo, baixinho. O Buda caminhava com um riso oculto, calmo, sereno, não muito diferente de uma criança saudável, vestia-se e colocava os seus pés como todos os seus monges, com passos seguros. Mas o seu rosto e o seu passo, o seu olhar calmo e absorto, a sua mão calma e pendente, e ainda cada um dos dedos da sua mão calma e pendente falavam da paz, falavam de perfeição, nada procurava, nada imitava, respirava delicadamente numa serenidade infinita, numa luz infinita, numa paz intocável."

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

: : Da incapacidade para a rejeição : : quando se confunde dignidade com orgulho desmedido : :


Poucos serão os que, neste mundo de egos desmedidamente exacerbados, encaram a rejeição (do Lat. rejectione), que implica o movimento contrário de um investimento humano, com naturalidade, confundindo orgulho com dignidade que, contrariamente ao que o senso comum advoga, se afirmam enquanto duas dimensões completamente distintas, uma vez que as pessoas dotadas de uma suprema dignidade existencial são, geralmente, muito humildes e encaram o orgulho como um obstáculo à comunicação interpessoal e à felicidade, como um vício e nunca como virtude, fundamentalmente, quando é hiperbolizado, ao ponto de conduzir o sujeito à autodestruição, julgando que se está a elevar ao olhar alheio, quando, na verdade, se está a diminuir interiormente de forma patética. Talvez não seja em vão que seja um dos 7 pecados capitais...

Conheço várias pessoas que, dotadas de uma boa formação moral, se perderam pelo orgulho, transformando-se em seres rancorosos, negativos, frustrados, invejosos, medrosos, maldosos, auto e hetero destrutivos, vingativos, enfim, medíocres, com uma fraca capacidade de regeneração, de vontade para partir do 0, para conceder novas oportunidades a novas pessoas na sua vida e a si próprios. Tudo porque encararam as rejeições como humilhações- daí ao desenvolvimento de um surdo e nefasto rancor foi um passo que não de gigante.

Logo que vimos ao mundo, quando saímos da super-protecção do ventre materno, o nosso organismo está sujeito às agressões do meio ambiente e, para sobreviver, tem de se adaptar ao contexto em que foi inserido, sob pena de sucumbir...É um exemplo de como a humildade, assentando numa salutar descentração, conduz à flexibilidade e a uma natural e profícua adaptabilidade...Humildade que se distingue, claramente, da tendência, também, muito vulgar, para a demasiada flexibilidade da coluna, essa sim, indignificante e cobarde.

Gustave Doré (1832-1883), Os Sete Pecados Capitais

Casos há em que bebés super-protegidos das naturais agressões do ambiente circundante não criam um sistema imunitário suficientemente forte que permita debelar infecções quando, inevitavelmente, se confronta com bactérias malignas...A lógica contrária também é verídica- foi-me dito por um médico, quando sobrevivi a uma pancreatite aguda enquanto grávida, que esse milagre se deveu ao meu sistema imunitário ter sido reforçado por, em criança, vivendo no mato (província) africano, ter lidado, desde muito cedo, com bactérias benignas, contactando com a terra, com a relva, etc, i.e, com agressões naturais e salutares...

Fico sempre com muita pena quando encaro com alguém que reage à rejeição com ridículos e minorizantes sentimentos de raiva e rancor- se a encarasse como algo inevitável no percurso de qualquer ser humano, talvez não fosse confrontado com repetidas ocasiões em que a dinâmica se reitera. A regeneração interior implica a capacidade para não se transportar sentimentos e memórias negativos do passado para o presente, comprometendo o futuro, implica sabermos conceder oportunidades a pessoas que não têm alguma responsabilidade pelo papel nefasto que algumas criaturas menores por nós maximizadas, em determinado momento menos inspirado das nossas existências, assumiram no nosso percurso pretérito, sob pena desse padrão eternamente nos perseguir. Quantas oportunidades de ouro este tipo de personalidades perdem ao longo de uma vida devotada ao culto do seu alter ego!


Já qui o disse- ser-se inocente não implica ser-se ingénuo, bem pelo contrário, um inocente é alguém experiente que opta por ter a alma limpa dos grânulos infectos, se desenvolvidos, que criaturas mais ou menos negativas, mais ou menos banais, mais ou menos medíocres, nos vão deixando, inevitavelmente, no coração; um ingénuo é um imberbe (etimologicamente do Lat., o que não tem barba, o que não usufrui de experiência de vida), enfim, um imaturo.

Interessante será concluir que um orgulhoso desmedido é, antes de mais, um imaturo, pois nunca saberá lidar com a rejeição com a humildade e dignidade que lhe seriam muito benéficas, não mostrando qualquer capacidade de regeneração interior.

Mais uma vez, se comprova como a lógica simplista do senso comum é facilmente desconstruída por uma análise menos ligeira, como se confunde leviana e facilmente fragilidade com força interior. Um vencedor não é aquele que evita obsessivamente as quedas, que se sente minorizado por assumi-las publicamente, não, é aquele que cai, que assume, de peito aberto às inevitáveis cobardes balas, as perdas como naturais no percurso de qualquer vida humana, sendo capaz de se reerguer, regenerando-se, reiteradamente, sem inférteis, confortáveis e sempre patéticas autocomiserações. Já diz o provérbio chinês: se o problema tem solução, óptimo, procuremo-la, se não tem, está solucionado per se.

Aliás, não fazendo de todo a apologia autoflagelatória do sofrimento, no entanto, é um facto que, intemporal e transversalmente, qualquer religião ou filosofia esotérica encara o sofrimento como uma ponte privilegiada para o Conhecimento, para a maturação do Espírito, da Centelha Divina que todos transportamos dentro de nós (uns mais do que outros, convenhamos...). Dedução talvez incómoda num tipo de sociedade obcecado com o prazer a qualquer custo...Paciência, o comodismo e a facilidade acéfala, também, nunca foram catalisadores da evolução........

Insisto, igualmente, no papel profícuo, libertador, higiénico e purificador da verbalização do tabu, sempre minorizante, aliás...

Fiat Lux!

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

: : pensamento do dia : : a sub-cultura do medo e do silêncio como guia : :

whose quiet mask ©?
Calar é consentir...o verbo tem um valor incalculável contra a barbárie, fundamentalmente, numa cultura onde o silêncio, o segredo e uma noção de vergonha altamente calcinante, dado que, frequentemente, associada a uma sensação de culpalização pelos actos alheios, catapultada pela falta de auto-estima das vítimas, constituem a caução da ignomínia e da impunidade. A verbalização do ultraje é o primeiro passo para a libertação, pois assume-o como um facto, desconstruindo-o, em parte, valorizando quem se mortifica pelas falhas exógenas.
Insurja-se, rebele-se, revolucione a sua vida, não se esquecendo que, geralmente, são os cobardes e os levianos, que têm uma particular apetência por falar do que não sabem, do que nunca experienciaram na pele, que advogam o silêncio e a passividade do ofendido, que lhes apazigua a (in)consciência e lhes garante a supremacia e a podre paz de espírito, é nele que repousa a sua, afinal, tão frágil, força ignóbil.
Só pela desconstrução verbal se faz cair a máscara de quem a entroniza como face...a mais básica psicoterapia o sabe e o pratica.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

: : o papel sagrado da memória das e nas vítimas : :

whose violence board?

Quando a violência remete alguém à condição de vítima de algozes cobardes munidos dos seus recalcamentos mais profundos, que destilam sobre quem julgam frágil, o papel da memória revela-se crucial para a sua ulterior dignificação. A memória, tantas vezes negada a quem sofre na pele e no espírito o ódio calcinante alheio, a falta de escrúpulos, de princípios, de humanidade, materializados em agressões físicas e psicológicas, em ameaças constantes, enfim, essa dimensão mnemónica que, por vezes, nos defende da loucura através de um paliativo esquecimento e, outras, pelo registo milimétrico das pretéritas circunstâncias nefastas que a abalam.

Posto isto, negar a uma vítima a memória é, simplesmente, uma segunda ou terceira violentação e tão agressor é quem comete o acto como o que o nega, frequentemente, por conveniência, por aniquilamento da consciência, por cobardia, por desistência da sua humanidade. Mas, que digo eu? Como é que alguém que vive por instinto, só empregando o raciocínio lógico na prossecução dos seus interesses particulares mais básicos pode, algum dia, almejar ter consciência? Vã ilusão, Deus, mais tarde ou mais cedo, Revelar-lhe-á as consequências de não a ter desenvolvido comme il faut! Sim, a responsabilização, tantas vezes negada na dimensão terrena, por sujeitos que não são, simplesmente existem, é implacável na Outra...Aí, a máscara descola-se do rosto e lá se mostram nus e crus os monstruosos contornos..."A mentira que o mentiroso prega a si próprio" não cola aos Ouvidos Divinos, muito Amplos, pois Omnipresentes! Gloria in Excelsis Deo!

: : a uma das minhas melhores amigas num momento de luto : :

"A coluna partida", Frida Kahlo, 1944

M. é uma das minhas melhores Amigas, daquelas Amizades que provêm das cumplicidades dos bancos de faculdade, das risadas e da partilha de angústias nos convívios durante os intervalos, dos disparates que urdíamos num género ficcional muito próprio e cujas personagens caricaturadas provinham de uma miríade de inspirações várias e de um companheirismo que deixará eternas saudades. Foi uma das minhas colegas de carteira, permaneceu como Amiga, apesar de o curso da vida nos ter afastado durante anos.

M tem uns olhos da cor do Céu e uma alma do tamanho do Universo, é a mulher mais digna que conheço. As suas profundas beleza interior e serenidade não foram poupadas a sofrimentos atrozes, mas mantiveram-se incólumes, a sua alma permaneceu pura, imaculada, detentora de uma dignidade quase intimidante, os seus olhos e o seu amplo sorriso o mesmo brilho de sempre. M, ontem, perdeu a sua Mãe, mas manteve a postura de uma deusa, algo que a nós, comuns mortais, quase se revela impensável.

M, o nosso pensamento, o das pestes que tu aturaste sempre com uma cristalina grande gargalhada, apoio e admiração estarão sempre contigo. Conta sempre connosco, o que Deus Uniu nenhum ser mortal jamais poderá separar, o teu Exemplo será, para nós, sempre, um Sagrado Paradigma.

Dedicamos-te as seguintes máximas com um abraço sempre Amigo,
Pedro e Isabel:

"Quanto mais elevado é o espírito mais ele sofre."
(Schopenhauer)

"Faz da tua alma um diamante. Por cada novo golpe uma nova face, para que um dia ela seja toda luminosa."
(Rogelio Stela Bonilla)

"Onde há sofrimento há terreno sagrado."
(Oscar Wilde)

: : Ainda o Exército de Terracota do Primeiro Imperador Sínico : :


No meu comentário atrás postado relativo à intertextualidade entre o medíocre filme A Múmia, em exibição nos cinemas Lusomundo, e a brilhante exposição do Exército em terracota do Primeiro Imperador Chinês (Dinastia Ch'in), no British Museum, escapou-me a análise de dois anti-heróis com um papel, igualmente, crucial no desenrolar da narrativa urbanamente mítica, globalmente difundida pela máquina cinematográfica de Hollywood- a do implacável general chinês e da sua maléfica subordinada.


A farda do Exército Vermelho, ainda com o corte maoísta, a falta de escrúpulos vivenciais, o belicismo feroz e a perfídia materializada numa profunda cicatriz num gélido rosto feminino revelam como subliminar, apesar de simplificadamente, se podem construir e enunciar estereótipos sobre formas de estar e ser exógenas, dificilmente desconstruídos de forma crítica. A simplificação tem, não raras vezes, este efeito: é fonte de demasiados mal-entendidos e de uma comunicação deficitária entre indivíduos que vivem em mundos diferentes. Tanto pior para os simplificadores e para todos aqueles que entendem o mundo pelas suas lentes...Quem utiliza o umbigo como guia cai, frequentemente, no empobrecimento do seu próprio mundo, o que por si só é um desperdício energético...Paz à sua alma, pois, sem o saber, não é, simplesmente existe!

sábado, 9 de agosto de 2008

: : 2 excertos fenomenais de Zadig ou o Destino de Voltaire : :

O Beijo, Gustav Klimt

"Zadig era seguido pelas estrelas. A constelação de Orion e o brilhante astro Sirius guiavam-no ao polo [sic] de Canope. Admirava esses vastos globos de luz que a nossos olhos mais não parecem que débeis centelhas, enquanto a Terra, nada mais que um ponto imperceptível na natureza, parece à nossa cupidez coisa tão grande e tão nobre."

"Adoramo-nos e temos medo de nos amar; ardemos os dois num fogo que somos os primeiros a condenar".
Voltaire

Another Outrageous Crying Game : : A posição fetal perante a crueldade humana


Grito de guerraFoto@EPA/Zurab Kurtsikidze
Depois do ataque aéreo russo a Gori, na Geórgia, uma idosa remete-se ao desespero.
Que tragédia a foto do dia ilustrar bem como a violência ultrajante remete à posição fetal o ser mais vivido e experiente, em busca da paz de um útero passado sempre presente!...Paz à sua alma, pois não sei o que será melhor: sobreviver (ou seria melhor dizer sub-viver?) à barbárie ou sucumbir perante os seus cruéis tentáculos?

Zapping televisivo II : : Verdades Intemporais e Universais II

Changing a little the previous subject, ontem, assisti no canal movie a um fenomenal espectáculo de stand-up comedy protagonizado por um brilhante humorista norte-americano que desconhecia (o que muita gente teria a aprender com este homem que, tal como o inglês iraniano-descendente Omid Djalili, utiliza a comédia como móbil de uma profunda análise sociocultural e não meramente como expressão de banalidades egocêntricas e patetices de algibeira, muito vocacionadas para a alusão eufórica e quase acéfala às partes pudibundas...) e retive o seguinte apelo relativamente ao comportamento "politicamente correcto" (geralmente, humanamente irresponsável) perante o terrorismo fundamentalista islâmico: "não sejam tão tolerantes que se tornem tolerantes perante a intolerância..."

Vide: http://o-lidador.blogspot.com/2007/06/terrorismo-islmico.html

Será caso para se recordarem algumas frases proferidas por célebres mentes sobre a verdade, essa dimensão tão degradada por convenientes relativismos:

"A verdade alivia mais do que magoa. E estará sempre acima de qualquer falsidade como o óleo sobre a água. " (Miguel de Cervantes)

"A repetição não transforma uma mentira numa verdade." (Roosevelt)

Fiat Lux para que as consciências não se apaguem (ainda que, agora, face à ameaça pulsante, o instinto de sobrevivência, certamente, as avive, mesmo aquelas que sempre desculpabilizaram o indesculpável, recorrendo à já tão corrente associação entre falsa vitimização e irresponsabilidade !)

Zapping televisivo : : Verdades Intemporais e Universais


Algumas das últimas palavras do, recentemente, defunto Joshua Nkomo, combatente independentista zimbabweano, quando do seu exílio: "Sofri muito mais durante o governo de Mugabe do que em 35 anos de luta contra o domínio branco".
Joshua Nkomo
Hoje, assisti a um doc no Biography Channel sobre o regime sangrento do já apelidado Hitler Africano, vulgo Robert Mugabe, e só me aflora ao espírito a seguinte verdade cósmica: "a Justiça Tarda mas não Falha", a Divina, não a dos humanos, frequentemente venal, facilmente comprada por um punhado de dólares, de diamantes ou de poços de petróleo (a intemporal "prostituta universal" (Marx dixit)), a que sempre lavou (verbo transitivo polissémico, aqui, aplicado não com o significado de limpar, muito pelo contrário- de apagar) muitas consciências (ou será despoletar os instintos mais básicos?, que a consciência, essa, quando existe permanece...).

http://www.zanupfpub.com/index2.html

O já designado Hitler Africano, que muitos defendem pelo comportamento alegadamente "justo" (?) do passado. Bem, que grande falácia- um homem superior como Mandela, que soube sempre substituir o rancor visceral e primário pelo perdão apaziguador (embora a sua ex-mulher se dedicasse a actividades, digamos eufemisticamente, menos filantrópicas...mas o que dizer? a vida mais ou menos conjugal de um casal não implica, obrigatoriamente, sintonia na filosofia e comportamento vivencial) nunca desceria à prática de mortandades abjectas como este ser sinistro primatizante. Digamos que, nesse departamento, esta criatura ignóbil é multicultural, pois tanto manda torturar, violentar e assassinar em massa fazendeiros brancos e as suas famílias (crianças incluídas), como populações negras (crianças, também, incluídas) que conseguiam um sustento digno nessas outrora férteis plantações dirigidas por "colonos" (nunca percebi bem esta palavra nem a disparidade de critérios que a sustenta- alguém que nasceu em África, cujos pais lá nasceram, contribuindo para o desenvolvimento económico e sociocultural daquelas paragens, é colono só por ser branco? Bem, que atitude racista, que deveria, por princípio, merecer a total repugnância das mesmas pessoas que defendem, acerrimamente, neste caso muito bem, que as 2ª gerações de imigrantes africanos sitos na Europa são europeus de pleno direito (ironica e ilogicamente, é o contrário que se constata!), como as igualmente negras que o ousem confrontar com a situação aviltantemente miserável a que este crápula conduziu a antiga riquíssima e próspera Rodésia e actual moribundo Zimbabwe.

(uma das vítimas do "espírito democrático" do regime de Robert Mugabe)

PP (Pós-Postado): aqui fica o link da ultima entrevista concedida por Joshua Nkomo antes da sua morte:

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Parabéns ao Combustões : : quando a coragem cativa

whose terrific Chinese dragon ©?
Gostaria de dar os parabéns ao autor de um blog que muito admiro, um ser elevado, com uma postura de vida já rara- o Combustões, que perfaz Três anos.

whose terrific Chinese dragon ©?

Como diria Napoleão Bonaparte:" A bravura provém do sangue, a coragem provém do pensamento." Fiat Lux!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A Múmia e o Túmulo do Imperador : : Exposição do Exército de Terrracota do Primeiro Imperador Chinês no British Museum : : A sombra do Gigante Chinês


The British Museum ©

No ano passado, estive no British Museum, onde se encontrava patente (de 13 de Setembro de 2007 a 6 de Abril de 2008), entre outras simplesmente fantásticas (delas falarei mais tarde), a exposição "The First Emperor : : China´s Terracotta Army", que, simplesmente, considerei sublime; ontem, vi o filme A Múmia, uma película fraquita em termos de argumento e representação, mas cuja presença, ainda que sucedânea, do exército em terracota do Primeiro Imperador Sínico- Qin Shihuang (Qin Shi Huangdi, Ch'in Che Huang Ti, Shih Huang-ti, Shi Huangdi ou Tchi Huang-ti), da Dinastia Qin (ou Ch'in)-, que iniciou a construção da Grande Muralha da China (reiniciada na Dinastia Han, por volta de 205 a.C., até assumir os contornos finais e uma extensão de cerca de sete mil quilómetros, durante a Dinastia Ming, por volta do século XV), o guarda-roupa e outros elementos cénicos de qualidade e a companhia de queridos amigos fizeram valer a pena o visionamento de hiperbólicas explosões pirotécnicas e simplistas americanizações da riqueza cultural alheia.

Registo e aconselho a coincidência por propósitos distintos, mas, sempre, narrativa e esteticamente enriquecedores ...

The British Museum ©

Para além da intertextualidade entre as culturas erudita e pop, sempre latente e patente nos dias de hoje, gostaria de frisar algo que se me mostrou evidente durante a sessão: o papel sempre preponderante de Hollywood na emergência de mitos urbanos, desta vez, o pânico, gradualmente, instigado, no inconsciente colectivo da opinião pública e publicada das sociedades ocidentais, face à meteórica e premonizada pujança da inexorabilidade do "gigante chinês". A imagem sublime (não nos esqueçamos que o aterrorizante e o horror podem, igualmente, inserir-se na categoria do sublime, apesar de, na minha particular perspectiva, reservar o qualificativo ao Bem e ao Belo, considerando a dimensão oposta à terceira como a maior das mediocridades e fraquezas humanas) da construção da Grande Muralha sobre os restos mortais de súbditos escravizados, a crueldade de um maléfico e (quase) indestrutível imperador que almeja a imortalidade e o jugo, pela mera cega sede de poder, sobre o planeta, desrespeitando os Grandes Ensinamentos Imortais dos Grandes Mestres Ancestrais, não será uma metáfora para a forma como a China tem tecido o seu protagonismo a nível mundial, desde a reciclagem do maoísmo por um capitalismo, frequentemente, apelidado de selvático?

E por que será que à força do herói terreno chinês decepado, mortal, ainda que sacralizado por um Amor Sublime, se sobrepõe, majestosamente, a de duas heroínas (mãe e filha) imortais com poderes paranormais e uma força interior proporcional a uma destreza física exponencial? Hummm...fica a dúvida e a questão, ainda para mais porque a nação chinesa não é, comummente, associada à valorização da existência e do papel do género feminino... Dúvidas não existirão é quanto ao perfil demasiado leviano e até patético dos ocidentais, comparado com a profundidade de quem já viveu séculos e cuja Missão lhe foi confiada pela Essência Divina de Poderes mais Altos...

É, então, que me apercebo que, depois de visto o filme, até o cartaz supra-postado se me revela caricato- o personagem mais ridículo assumindo-se como protagonista de uma narrativa onde sobressai, meramente, como vaso decorativo (acontece muito frequentemente, com mais regularidade do que o que seria desejável...):

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Amizades descartáveis, relações (des) coloridas : : quando o demasiado light já enjoa

whose in the garbage woman ©?

Lenços descartáveis, pensos descartáveis, fraldas descartáveis, roupa descartável, móveis descartáveis, carros descartáveis, casas descartáveis, em suma, objectos descartáveis, pessoas descartáveis, amizades, amores, resumindo, relações e ralações descartáveis...Tanta descartibilidade chega a enjoar, não quero parecer um receituário digest apocalíptico, mas a felicidade não se alcança pelo culto do exterior, nem da superficialidade, nem da artificialidade, nem pela fuga obsessiva ao sofrimento e à profundidade, paralela a um culto exacerbado de uma alegria eufórica, tantas vezes, apócrifa. Todavia, parece que anda tout le monde a pensar que sim...Depois, admiram-se de se verem sozinhos, sem alguém que não tenha, também, um coração descartável, sentimentos descartáveis, princípios descartáveis, ...
Mas, também, quem sou eu para os desviar de tal percurso? Cada um constrói o seu e "só quem está no convento sabe o que lá vai dentro". No meu, tenho de admitir que passo muito bem sem a DAS (descartibilidade, artificialidade e superficialidade)...O que é que querem? Já não tenho pachorra, para vos ser muito franca, nem, já, na adolescência tinha, pensando bem, nem na infância (deve ser defeito de fabrico, com certeza)...
Enfim, opções de vida, que não a minha, claro e, felizmente, daqueles que me acompanham, desde quase sempre, no meu percurso vital (Muito obrigada, Meus Verdadeiros Amigos, os Meus Eleitos!!!). Confesso que alguns deixaram de o ser porque não obedeciam a certos critérios que considero basilares num ser humano, mas nunca por descartibilidade, apenas por indignidades com as quais não lido muito bem, admito. Como, atrás, frisei: mais vale "honradamente só" do que humilhadamente (se me permitem o neologismo) acompanhada, idealmente orgulhosamente ladeada por Quem Merece...
Afinal, analisando bem a questão, o meu teste do algodão, sempre, foi o da indescartibilidade (perdoem-me este outro neologismo) e, como todos sabemos, este não engana......Enfim, declaro aberta, oficialmente, a caça à superficialidade demasiado light o que, nesta silly season, é quase um contra-senso, mas, como (quase) toda a gente sabe, adoro paradoxos (aí, sou muito pós-moderna), desde que em doses não muito excessivas (ultimamente, tenho andado hiper-mega-sensível, je ne sais pas pourquoi)...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

De como o humor auto-irónico faz implodir preconceitos

whose photo ©?

Já sou uma fã incondicional do Omid Djalili Show, uma das séries da BritCom, difundida pela RTP2 aos domingos à noite. Omid, um anglo-iraniano, alterna espectáculos de stand-up comedy com vídeos por si protagonizados. Todas as narrativas centram-se numa estratégia auto-irónica que, de forma muito perspicaz e inteligente, desconstrói e aniquila preconceitos e estereótipos simplistas sobre a população de origem iraniana e muçulmanos em geral. Por tudo isto, não seria exagero afirmar que o humor de Omid faz mais pela harmonia social do que muitos discursos políticos inférteis. Esta consciência de que o entretenimento de qualidade tem uma forte palavra a dizer sobre a educação das massas revela-se primordial nas sociedades complexas em que vivemos, em que o reconhecimento dos interlocutores por estereótipos se revela um lugar-comum dificilmente desconstruído.
Um homem que se saiba libertar do seu ego, ainda que o usando, inteligentemente, como leitmotiv narrativo, será sempre alguém admiravelmente pacificador, independentemente dos meios que utliza para actualizar essa missão....