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segunda-feira, 22 de outubro de 2007

“Tristes tempos os nossos em que é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”

James Watson numa sessão de autógrafos, após uma sua palestra no prestigiado laboratório de genética Cold Springs Harbor
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/James_D._Watson


Como alguém que nasceu em África (Moçambique) e que teve o privilégio de nascer e crescer, até à independência e subsequente vinda para Portugal, num ambiente sociocultural verdadeiramente intercultural, onde conviviam e eram, simultaneamente, agentes de trocas simbólicas, fontes e receptores de significados culturais diversos, as culturas negra (nas suas diversas manifestações tribais), ocidental (lusa e inglesa) e oriental (indiana e chinesa), o animismo, o cristianismo, o islamismo, o hinduísmo, o budismo, confesso-me chocada com as últimas afirmações de um cientista como o Dr. James Watson.

James Watson, um septuagenário geneticista americano, responsável pelo prestigiado laboratório Cold Springs Harbor, célebre pela descoberta da estrutura molecular dos ácidos nucleicos ou DNA, em co-autoria com Francis Crick e Maurice Wilkins, trabalho precursor da genética que os consagrou enquanto galardoados com o Prémio Nobel de Medicina em 1962, afirmou, recentemente, que, em termos genéticos, o QI dos negros é inferior ao dos brancos. Estas declarações, publicadas numa entrevista ao jornal britânico Sunday Times, no domingo passado, fizeram com que se acendesse uma polémica em todo o mundo, levando a que o Museu da Ciência Britânico suspendesse a palestra que o geneticista iria proferir naquela instituição, decisão assim justificada pelo o seu porta‑voz: “(…) cientistas eminentes podem, por vezes , proferir afirmações que provocam controvérsia e o Museu da Ciência não se demite de debater temáticas controversas, todavia, pensamos que o Dr. Watson ultrapassou os limites de um debate aceitável.” James Watson que se deslocou a Inglaterra para promover o lançamento do seu último livro com um sugestivo título: “Avoid Boring People: Lessons from a Life in Science” afirma na dita entrevista que se sente “inerentemente desalentado com as perspectivas em África”, porque “todas as nossas políticas sociais estão baseadas no facto de que a sua inteligência [dos africanos] é a mesma que a nossa- enquanto todos os testes nos indicam que não”, acrescentando que, embora gostasse de afirmar que todos somos iguais, “as pessoas que têm de lidar com empregados negros consideram que isto não é verdade”. Devido a estas afirmações o Dr. James Watson foi, igualmente, suspenso das funções que exercia num dos laboratórios geneticistas internacionalmente mais prestigiados- o Cold Spring Harbor.
No passado, o Dr. Watson já tinha provocado controvérsia ao afirmar que, se os testes de DNA provassem que um nascituro seria homossexual, a essa mulher deveria ser dado o direito de recorrer ao aborto.
Ora tais afirmações, que Watson afirma estarem baseadas naquilo que considera “ciência pura” e afoitas ao politicamente correcto, colidem frontalmente com o postulado pela UNESCO- o de que teorias científicas que promovam a discriminação étnica afirmam-se como móbeis de uma clara violação dos princípios morais e éticos que devem reger qualquer sociedade humana evoluída. Já no Independent, Steven Rose, um eminente biólogo britânico devotado à investigação na Open University, ilustre membro da Sociedade para a Responsabilidade na Ciência, afirma que a Watson escapou-lhe tudo o que tem sido publicado nesta área da investigação. Por sua vez, o Ministro britânico David Lammy considerou as afirmações de Watson “como profundamente ofensivas”, acrescentando que estas só favoreceriam posições extremistas e xenófobas, acrecentando que “é uma pena que um homem com um passado de distinção científica veja o seu trabalho assombrado pelos seus preconceitos irracionais”.
Face a esta “tempestade mediática”, o famoso geneticista Dr.Watson afirmou estar muito perturbado devido aos acontecimentos, acrescentando: “Eu compreendo perfeitamente porque as pessoas, ao ler estas palavras, reagiram da forma como fizeram. A todos aqueles que inferiram das minhas palavras que África, enquanto continente, é, de certa forma, geneticamente inferior, só posso pedir as minhas desculpas sem reservas. Não foi isso que pretendi dizer. O mais importante, do meu ponto de vista, é que não existe base científica para essa crença”.
Ainda bem que se desculpa publicamente, pois aos cientistas deve ser exigida um grau máximo de responsabilidade social, dado o estatuto social que detêm, postura que passa pelo respeito integral por toda e qualquer cultura, género, etnia, classe social, crença religiosa ou ideologia política, assente na consciência acesa de que as suas teorias podem ter um impacto perverso num mundo globalizado, já tão calcinado pela violência. Como tal, carece de legitimidade qualquer teoria que contribua para acirrar comportamentos discriminatórios e ódios irracionais assentes em preconceitos redutores. Sim, porque uma das fontes primordiais da injustiça social e da violência gratuita são os estereótipos, autênticos mecanismos que, advindos da ignorância, se afirmam, igualmente, enquanto privilegiados promotores da ignorância. A responsabilidade social não é uma expressão vaga e politicamente correcta que deva ser aplicada somente ao modus operandi empresarial ou institucional, mas um dever de todo e qualquer cidadão, ainda mais daqueles que, por pertencerem a certas elites, devem assumir as suas responsabilidades enquanto modelos sócio-culturais.
Mas, na minha modesta opinião, face a esta teoria não insólita, mas ignóbil, levanta-se outra questão: como é que o Dr. Watson chegou a tais conclusões- só pelos dados genéticos? Será só a genética que condiciona as competências intelectuais de um indivíduo? Então e os factores sócio-culturais, as experiências de vida, os estímulos a que os humanos são ou não sujeitos que lhes permitem desenvolver mais ou menos as suas competências? Certamente que uma criança africana negra sub-nutrida, sujeita à miséria e à violência quotidiana não terá as mesmas hipóteses de desenvolver as suas capacidades inatas (que até podem ser extraordinárias) e competir no futuro com alguém da mesma ou de outra etnia de inteligência mediana, que usufruiu toda a sua vida dos confortos de uma existência e educação privilegiadas, onde uma alimentação abundante e de qualidade e a frequências dos melhores estabelecimentos de ensino lhe estimularam tudo o que é competência. E, mesmo assim, por vezes, há seres extraordinários que conseguem ultrapassar todos esses obstáculos e superar-se, suplantando estes indivíduos que, pela sua mediania inata ou por terem tido sempre tudo, dando tudo como adquirido, não demonstram as mesmas capacidades cognitivas, lógico-matemáticas ou criativas, nem a mesma força vital para lutar pelos seus sonhos. De facto, não estamos perante uma questão meramente científica, mas essencialmente ética. Qualquer tipo de discriminação, quer ela seja baseada em preconceitos culturais, étnicos, de género, religiosos, sociais ou políticos é um flagelo que contribui em muito para acirrar os índices de injustiça social e de violência. Cito, a propósito, mais uma vez, Albert Einstein: “Tristes tempos os nossos em que é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”.
Mas mesmo no âmbito científico, esta teoria, se não fosse potencial propulsora de acontecimentos dramáticas, seria, no mínimo, risível. Para já, porque o conhecimento do cérebro humano é ainda tão incipiente que qualquer teoria dogmática sobre este objecto de estudo cai por terra. Aliás, e de acordo com a teoria da falsicabilidade de Karl Popper, qualquer teoria é válida até que apareça outra que a ponha em causa e, neste caso, há inúmeros trabalhos de investigação que, claramente, contrariam esta opinião do Dr. Watson, que mais parece de senso comum do que baseada em algum facto científico. Por outro lado, é forte a hipótese de que o cérebro humano, estando dividido em dois hemisférios, apresente a particularidade de direccionar o hemisfério direito para as competências criativas (imaginação, capacidade de síntese, de memorizaação, percepção das relação espaciais, entre outras) e o esquerdo para o raciocínio lógico-matemático (cálculo, linguagem verbal, etc). Já António Damásio, no Erro de Descartes o afirma: à inteligência racional, baseada no raciocínio lógico, linear e sequencial, o ser humano junta a inteligência emocional, assente na intuição e na criatividade. Como tal postula que “o ponto de partida da ciência e da filosofia deve ser anti-cartesiano: "existo (e sinto), logo penso”. O Homem deve ser tomado na integralidade das suas capacidades, como forma de desenvolver de forma salutar o seu ser e de alcançar o equilíbrio.
A propósito, posto aqui um excerto de uma entrevista concedida pelo Director do Instituto da Inteligência, Dr. Nelson Lima, à jornalista da revista Crescer Patrícia Serrano, que versa sobre o fenómeno das crianças sobredotadas e os vários tipos de inteligência que são hoje considerados em termos científicos ( vide http://mentessobredotadas.blogspot.com/2005/12/crianas-sobredotadas-em-entrevista.html): "CRIANÇAS SOBREDOTADAS Em entrevista à jornalista Patrícia Serrano da revista CRESCER, Nelson S. Lima [Director do Instituto da Inteligência] respondeu a algumas questões sobre a sobredotação que serão publicadas oportunamente naquele órgão de comunicação social.Dado o interesse que o assunto tem para muitos dos leitores desta página aqui apresentamos o essencial dessa entrevista.
Patrícia Serrano - Quais são as aptidões e características que definem um sobredotado? E são estas aptidões limitadas às competências intelectuais e académicas, ou são mais latas e abrangentes?
Nelson Lima - As pessoas com altas capacidades ou com talentos excepcionais diferem dos outros indivíduos pelas potencialidades que apresentam e pelo elevado nível de execução e concretização de que são capazes nas suas áreas de interesse. Pode ser uma forma de inteligência que se apresenta bastante desenvolvida e estruturada (por exemplo: a lógica-matemática), uma alta habilidade (por exemplo: para a liderança) ou um talento artístico (por exemplo: a criação musical). Tradicionalmente chamam-se sobredotadas a estas pessoas mas o termo tende a ser substituído por "Indivíduo Portador de Alta Capacidade (…)
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