Creio que já chegou a hora de se ignorarem posturas ideológicas redutoras e fazer-se justiça, nem que seja simbólica, honrando o nome de quem honrou a nação, como símbolo de toda uma comunidade que, na sua larga maioria (excepções à regra há sempre), contribuiu para o desenvolvimento de Moçambique e de Angola- os chamados colonos e, mais tarde, retornados-, pelo seu trabalho árduo e honrado, pela sua humanidade e claro espírito de missão e de sacrifício, pelo Grande Amor que (quase) todos sentiam por aquelas gentes, por aquelas terras. Comunidade que tem assistido, desde há 33 anos, ao enxovalho do seu nome e da sua honra pública e continuamente, por narrativas míticas dogmáticas subjectivas, não isentas e profundamente injustas, de quem nunca conheceu nem amou África, pois quem ama nem destrói, nem é conivente com a versão ficcionada e simplista dos destrutores !
Todavia, nós, comunidade de retornados e apátridas- o que é que se chama a alguém que nasceu nas ex-colónias, que lá cresceu, que nunca esteve na Metrópole e que retornou à terra natal de seus pais, dada a situação calamitosa a que essas terras e respectivas populações foram devotadas, sem se poder defender de atrocidades? Retornados? Então qual é a coerência? Para uns há o respeito, e muito louvável, porque são cidadãos portugueses de pleno direito, filhos de imigrantes, que constituem a chamada 2ª geração; outros são englobados erroneamente numa categoria a que não pertencem- a de quem retornou a um local onde nunca esteve, a uma comunidade estranha à sua matriz sociocultural! E ainda têm o desplante de reafirmar, consecutivamente, que abandonámos as ex-colónias! É preciso descaramento e uma profunda falta de justiça histórica! Quem é que não abandonaria, com catanas e metralhadoras apontadas às cabeças das suas mulheres, dos seus filhos, dos seus maridos, dos seus amigos, dos seus empregados, e sem ter meios alguns de defesa? Carregue na tecla quem permanecesse! Claro que alguns permaneceram, mas tiveram, ou de se calar para sobreviver, ou de se aliar ao novo regime e legitimar as suas práticas, cuja humanidade deixou muito a desejar sempre!
Já todos os limites da ofensa foram ultrapassados. Nós, os que ainda estamos vivos, temos o dever de exigir respeito pelas nossas memórias e, principalmente, de honrar a memória de todos aqueles que tombaram ou viram tombar os seus entes mais queridos! Haja decência!
Como diria Martin Luther King: "O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons."
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