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(Tau-te-King, 16)


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Quando as aparências nos iludem : : Só a verdade nos faz evoluir : : Será?

Photo: unknown authorship

Em miúda, era frequente temer um dos momentos em que o verbo da minha Amizade (ponho em maiúscula, pois só tenho esse tipo de Amigos, os outros são apenas conhecidos) superava a voz da minha consciência- quando às minhas amigas lhes acontecia serem deixadas por aquele que julgavam "o homem das suas vidas" e logo o viam com outrem. Eu já sabia que o discurso que se seguia era: "ela é feia, não achas? Olha e não parece nada inteligente... E as roupas que usa? Bah, que horror, como é que ele me pôde deixar por um estafermo daqueles?" E eu lá encolhia os ombros e tentava nada verbalizar- na maioria das vezes, as moças em questão eram bonitinhas, nada lhes fazia adivinhar um atraso intelectual e o estilo era até engraçado. E eu anuia a medo, com a voz tímida de quem receava enunciar a verdade. Temia, porque não as queria magoar e, pela minha imaturidade, preferia debelar um mal a curto prazo do que garantir um bem-estar mais prolongado, sem o saber.

Mais tarde, com a repetição ininterrupta destas cenas, pensei: por que é que as mulheres portuguesas, quando traídas conjugalmente falando, culpam "a outra" e não os ex-companheiros? Porque, vejamos, se isso sucede, os principais responsáveis são os dois que estiveram juntos até então- talvez o traidor tenha uma culpa reforçada-, a outra pessoa surgiu mais tarde e, apesar de, idealmente, ter a obrigação moral de não interferir numa relação alheia, o facto é que, geralmente, não tem algum laço afectivo com a traída, quem o tem é quem trai, i.e, neste caso, o homem. Na minha opinião, isto é mais uma prova de que a sociedade portuguesa ainda se orienta por preconceitos profundamente machistas que desresponsabilizam o comportamento sexual masculino, que minimizam as mulheres, convertendo-as em concorrentes desarvoradas pelo mesmo objecto de afectos, que se auto-discriminam ao discriminarem as outras de forma tão leviana e vulgar.

Na próxima vez, com certeza que direi: o quê? Por favor, ela não é absolutamente como tu dizes (mesmo que o seja). Já tentaste perceber o que falhou entre vocês os dois e não responsabilizar outrem ou tentar denegri-la? Podes, pelo menos, culpá-lo a ele, pois foi ele que te traiu? Isso não te ajuda em nada, pelo contrário, demonstra uma insegurança terrível e, pensando que estás a elevar a tua auto-estima, não, estás simplesmente a enganá-la e a adiar uma reflexão necessária para fazeres o luto e partir para outra situação mais condigna. Ouve, avança com a tua vida e deixa lá a outra em paz que, se calhar, nem sabe que tu existes.
Bem, em teoria, seria assim, mas será que terei alguma vez coragem para o fazer, eu que defendo a verdade como princípio basilar na minha existência, mas que opto, quase sempre, pela força da Amizade que nutro por quem a merece? Será que alguma vez eu, também, me vislumbrarei com o mesmo discurso? É que isto de elaborar receitas para a vida alheia parece muito fácil, mas, quando nos toca a nós, tudo se complica. Bem, até agora, nunca culpabilizei alguém externo, mas quem pode garantir o que sucederá amanhã?

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