☼ All One Now ☼

By giving and sharing the best of ourselves we´ll all rise up ☼"Quando souberes o que É Éterno saberás o que é recto"
(Tau-te-King, 16)


terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Luiz Pacheco : : Homenagem a um autêntico dissidente


Não conhecia nem a vida nem a obra do escritor português Luiz Pacheco. Todavia, o documentário sobre a vida e obra deste “escritor maldito” nacional, difundido por duas vezes na RTP 2 (na última vez como tributo post mortem), fez-me passar a admirar, sem reticências, um homem que afirmou a sua existência como um autêntico manifesto anti-sistema. Apesar de não concordar em muitos aspectos com algumas das suas posturas ideológicas e vivenciais (e quem sou eu para discordar sobre o que for da vida deste homem que soube ser?), vislumbrei ali um verdadeiro sábio, alguém com uma coragem inaudita, que renegou a glória e a segurança material em prol da sua verdade existencial. Alguém que não se limitou a sobreviver, viveu, na mais pura acepção da palavra, apesar de ter sacrificado a sua independência económica em benefício da sua independência intelectual. Tarefa nada fácil num país pleno de egos despóticos ávidos de fama, de reconhecimento alheio e do conforto material. Os tais escritores de Casino de que falava Luiz Pacheco...
Um verdadeiro inocente e, como todos sabemos, neste país, a inocência, a par da autenticidade, não raro, paga uma factura demasiado alta para se mostrar apetecível ao olhar incauto de quem deseja, fundamentalmente, passar incólume pela vida!
Todavia, o que mais me chocou foi a forma como alguma menoridade discorreu condescendentemente sobre a maioridade de um verdadeiro ser emancipado, muito além dos parcos limites geográficos, temporais e mentais desta nação incondicionalmente amordaçada pelo medo, pela desconfiança e por ínfimos horizontes!
O que mais me comoveu foi ouvir um dos seus filhos, testemunha de muito sofrimento, falar de seu Pai com um Amor e um Respeito que só um ser elevado consegue nutrir por quem o privou de muitos confortos materiais e, talvez, até da estabilidade emocional indispensável em idades dela sempre sequiosas, mas que lhe delegou uma herança por demais valiosa- o Amor pela verdadeira Liberdade Incondicional!
Descanse em Paz, Luiz Pacheco! Certamente que, agora, que faleceu, este país não deixará de lhe prestar culto, onde farão questão de fazer corpo presente os seus inimigos, na já longa tradição das homenagens post mortem. Não faltarão discursos inflamados como o meu, novas edições e até descerramentos de placas toponímicas (alguns estariam, até, a contar os dias até à sua derradeira partida, para, agora, avidamente se lançarem ao seu legado como mais um filão do lucro que o Luiz sempre desprezou). Enfim, a comédia humana no seu esplendor ou o circo de interesses sobre princípios do costume, que a alma do Luiz, com certeza, vislumbrará com o humor que lhe era tão próprio, Daí, Algures, nos domínios da Transcendência. Sim, agora, mais do que nunca, fará todo o sentido a resposta ao apelo que lhe fizeram em vida para deixar uma mensagem de alento às novas gerações.
Sugestão: alguns títulos de Luiz Pacheco, amavelmente cedidos por um amigo:
Pacheco, L. (1973). Exercícios de Estilo, Lisboa: Editorial Estampa.
Pacheco, L. (1974). Pacheco Versus Cesariny, Lisboa: Editorial Estampa.
Pacheco, L. (1977). Textos de Circunstância, Lisboa: Editorial Fronteira.

Sem comentários: