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(Tau-te-King, 16)


domingo, 9 de dezembro de 2007

A auto- vitimização e desculpabilização como reflexo da desresponsabilização individual


Uma pessoa minha amiga, simpática e afável, mas com uma deflação de auto-estima proporcional a uma autocentração e um egoísmo quase patológicos, elege sempre os outros como bodes expiatórios dos seus problemas, das suas próprias atitudes menos próprias, da sua irresponsabilidade pessoal, transformada, ulteriormente, em atitudes depressivas de auto-desculpabilização e vitimização. Essa pessoa provoca até à exaustão, ela usa, ela ofende, ela magoa, ela goza com os outros com uma leveza que brada aos céus e admira-se, depois, que eles reajam, que dela se afastem, que eles se sintam ofendidos, e com razão, que atraia só gente interesseira que não nutre por ela qualquer tipo de sentimento genuíno, porque, os que sempre tentaram dar-lhe algo de autêntico sentiram‑se atingidos pela sua exímia capacidade para os magoar de forma cruel. Eu sou uma dos únicos resistentes que ainda acompanham essa pessoa há tantos anos e nos momentos em que ela mais necessita está sempre presente. Cheguei, várias vezes, a ter de confortá-la por reacções de outrem que eu subscreveria 100%, mas que tive de desvalorizar pelo carinho que por ela sinto, que me bloqueou, tantas vezes, as críticas ao seu comportamento. Todavia, uma vez que a amizade que tenho por ela é muito forte e acredito piamente que os amigos são aqueles que nos dizem a verdade, por mais que esta nos doa (embora, agora, já tenha, praticamente, desistido dessa tarefa, depois de anos seguidos de conselhos que caíram, literalmente, em saco roto), adverti-a umas 1000 vezes para a circunstância de que, enquanto não deixasse de usar os outros, de magoá-los de forma continuada e irreflectida, de não tentar pôr-se em questão, o universo lhe devolveria a resposta em termos proporcionais. Mas, nada feito, nunca alterou uma vírgula do seu comportamento. O processo repetia-se continuamente: após provocar os outros, umas vezes de forma directa, outras da forma mais subliminar possível, após magoar quem dela gostava tanto, não lhe dando sequer o direito de reacção, seguia-se um momento de gozo literal pelo ataque vil de que fora protagonista e pela natural reacção de quem sofria as consequências do seu modo tão injusto de ser, seguido, entretanto por uma fase de desculpabilização e auto-vitimização, que descambava na depressão e numa fase em que se comprazia com palmadinhas nas costas reconfortantes. Para esta pessoa, os outros são, eram e serão sempre os culpados das suas más acções. Não raramente, elege alguém em especial para descarregar as suas frustrações, os seus medos, as suas inseguranças, mas nunca, nunca se põe em questão.
Eu sei que é muito mais fácil alguém arranjar soluções para a vida alheia do que para a própria, mas quando em causa está uma genuína amizade e adstrita vontade de ajudar-se alguém a auto-superar as suas menoridades, que, não raro, descambam num profundo sofrimento ulterior próprio e alheio, não é difícil constatar-se que as pessoas que nos são próximas, que nos conhecem como a palma da sua mão (embora o acto de conhecer alguém seja sempre um processo contínuo) e que gostam verdadeiramente de nós vislumbram, por vezes, de forma mais racional, porque um pouco mais distanciada, soluções que o sujeito, envolvido na trama das emoções, dificilmente descortinaria. Todavia, toda a gente que tentou ajudá-la, genuinamente, a auto-superar-se desistiu, é que a paciência tem os seus limites. Para quê tentar abrir os olhos a uma pessoa que já demonstrou gostar de tê-los bem fechados? “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, mas, neste caso, talvez sejamos nós, os seus amigos verdadeiros, que tenhamos querido vislumbrar uma grandiosidade que nunca existiu, deveras. Os laços afectivos fortes são assim- por mais que alguém de que nós gostamos muito revele condutas impróprias, insistimos em ficar do seu lado, por mais que vejamos os seus defeitos, o carinho que sentimos por esse ser é superior a qualquer crítica racional. Talvez seja este o modus operandi correcto- o da não intereferência, o de não tentarmos consciencializar nem substituir-nos a alguém que tem de aprender por si próprio a evoluir como ser humano. Não sei, respostas conclusivas, nestes domínios, são sempre simplistas e as relações humanas são muito mais do que a conjugação de ingredientes que se juntam para alcançar determinado efeito determinado a priori, apesar de a razão ser um magnífico auxiliar para quem encara a vida como um contínuo processo de aprendizagem. Só lhe desejo o que sempre desejei- que encontre o seu caminho com dignidade, responsabilidade e justiça intrínseca, que a auto-consciencialização, que sempre renegou, se afirme na sua existência como garantia de uma vida harmoniosa, que saiba analisar da forma mais lúcida possível as causas de tão más consequências que sempre a fizeram sofrer e culpar os outros desse sofrimento, afectando-os, também, nesse processo auto-destrutivo.

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