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By giving and sharing the best of ourselves we´ll all rise up ☼"Quando souberes o que É Éterno saberás o que é recto"
(Tau-te-King, 16)


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

: : da seriedade à loucura só um passo para quem só a aparência procura : :

Talvez por ser "retornada", melhor, refugiada política, pois não retornei a algo que fosse, sempre me senti uma estrangeirada nesta pátria que sempre julguei em parte como minha, mas algo deslocada em termos topológicos e sócio-culturais...De facto, desde que cá aterrei num avião sul-africano, sempre fui acometida por episódios de um choque cultural profundo com gente que sentia não ser a minha, mas que não podia renegar, pois encontrava-me em situação de imersão sócio-cultural...

whose equal creatures? ©

Talvez por isso, nutra tanta simpatia por estrangeirados lusos célebres - Luís de Camões, o Padre António Vieira, o próprio Marquês de Pombal (apesar de todas as atrocidades praticadas contra os Távoras, há que reconhecer a sua grande inteligência pragmática (que, como se sabe, não é muito própria desta gente acometida pelo Síndroma da Reunite aguda, desde Viriato) e até o seu sentido de humor refinado (refiro-me àquele episódio caricato da proibição por parte de D. Maria no sentido de o obrigar a "não mais voltar a pisar terras de Lisboa" e a peça ter cá aparecido de carroça, sentado em cima de terras de Pombal...); Eça de Queirós; Fernando Pessoa; os Professores António José Saraiva, Eduardo Lourenço, José Gil, entre tantos outros (o que não implica que o raciocínio seja transitivo, i.e., que não considere como execráveis outros, também, famosos que se andaram a passarinhar lá por fora, mas que mantiveram todos os vícios de cá de dentro, ainda acoplando (a língua portuguesa é mesmo traiçoeira...) os que souberam captar do exterior em prol dos seus interesses publicamente muito colectivos, ainda que, privadamente, muito próprios...)...

De facto, considero que Portugal foi e é grande por todos os seus filhos que souberam e sabem contactar com a diversidade e evoluir com ela e não por todos aqueles que, imersos numa cultura, intemporalmente, autocentrada (ainda que se fingindo de solidária), provinciana, mesquinha, invejosa e de horizontes limitadíssimos, permaneceram e permanecem, por mais que a vida lhes dê oportunidades para abrirem a sua massa encefálica, com os seus frames atrofiados e atrofiantes (neste ponto específico, a globalização está a operar maravilhas quase anti-natura neste habitat do Homo Lusus)...

whose falling mask? ©

Lembrei-me disto a propósito da noção muito minimamente portuguesinha de seriedade, usual e redutoramente, confundida com cinzentismo, com o beige do politicamente correcto, do socialmente irrepreensível, do aborrecidamente detestável...Não é, então, de estranhar que a máxima "à mulher de César não lhe basta ser séria, tem de parecê-lo" seja idolatrada por mentes que veneram as aparências como única forma de reconhecer os interlocutores...Assim, é de somenos importância que a mulher de César e mesmo este sejam uns devassos e/ou uns pobres de espírito na privacidade; o que interessa é mostrarem que são impolutos e detentores de uma cultura erudita intocável no espaço público (é a concretização crua do silogismo "públicas virtudes, vícios privados")...E, depois, é o que se vê- as incongruências gritantes que esta sociedade, intemporal e patologicamente, inclinada para a veneração do estereótipo e da superfície tece e urde- a imoralidade de se defenderem, publicamente, causas, veementemente, negadas no aconhego da esfera privada, onde as imperfeições ou mesmo vícios e perversões abjectas nascem como coelhos que, desbragadamente, se soltam, mal a camponesa da quinta abre a portinhola.

Como tal, não serão de estranhar as lógicas maniqueístas dominantes: indivíduo apresentável (só este qualificativo diz tudo), sério, low profile (indispensável à seriedade...), carrancudo e/ ou pesaroso, culto (?), com temas de conversação sempre profundíssimos (ainda que, muitas vezes, com base em clichés e lugares comuns completamente entediantes e reveladores de uma capacidade crítica evidentemente inactiva, quando não mesmo completamente passiva) vs indivíduo com apresentação duvidosa, pouco sério, demasiado risonho e brincalhão, exuberante, light, nada devotado às verdades feitas que o magister dixit, muito pronto a deter uma postura individual e independente, logo disparatado...

whose rising mask? ©


Estranha forma de vida esta que culmina, na maior parte das vezes, na ironia das ironias (defendo veementemente o Sentido de Humor Divino- quantas gargalhadas Deus Deve Dar à custa de todos nós, principalmente destes seres adoradores da máscara que lhes deforma ou disfarça a face...)- na privacidade, transforma-se (ou será melhor dizer assume-se?) o crítico na coisa criticada ( e com uma facilidade que brada aos céus!)...E o mais engraçado é esta espécie, geralmente muito umbilical, muito senhora do seu nariz, que se leva demasiado a sério, frequentemente, nem necessitar da privacidade para se descair- lá diz o ditado, o atrevimento da ignorância desmascara-a com facilidade...

Perdoem-me este desabafo, mas, por vezes, a pachorra esgota-se-me e tenho de limpar a minha garganta de certas impurezas (a idade não perdoa- podemos não perder a juventude interior, mas a paciência para certas criaturas ridículas, essa, esvai-se com uma facilidade (pensando bem, nunca a tive...)...Este tipo de espectoração faz sempre maravilhas à alma e à pele. Talvez, por isso, uns necessitem mais de artifícios para enganar o tempo do que outros, mas como eu, hoje, sinto um apelo irrestível por máximas, provérbios e afins, aqui vai: "o mal e o bem à cara nos vem" (e aos olhos, acrescentaria eu, o espelho da alma ou da lama, conforme os casos (talvez por isso, alguns tenham tanta relutância em mostrá-los...)

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