No post anterior, falei do conceito de perdão na perspectiva de quem o concede, hoje, penso ser importante frisar a sua bivalência, i.e, abordando-o na perspectiva de quem o deve pedir. Todos nós cometemos falhas, umas mais graves do que outras, a perfeição humana ainda é uma quimera, embora, como dizia Madre Teresa de Calcutá, deva sempre ser procurada. Uma das máximas preferidas de uma pessoa minha amiga é a seguinte: "as desculpas não se pedem, evitam-se". Concordo plenamente, mas acrescento: pedir perdão não é uma desonra ou humilhação, bem pelo contrário, é um acto de grande dignidade, de grande nobreza moral, quando posto em prática de uma forma sincera, autêntica, uma vez que o sujeito que assim procede, depois de uma reflexão interna mais ou menos intensa e profunda, conforme o lapso em causa, descentra-se, pondo-se em questão perante si próprio, actualizando duas basilares máximas cristãs, uma das quais já evocadas no post anterior: Ama o Próximo como a ti mesmo; antes de julgares os outros, julga-te a ti mesmo. Deste modo, pode-se concluir que o acto de pedir perdão por algo que se disse ou fez que se sabe ser erróneo é uma das expressões da supremacia da consciência sobre os instintos, revelando como enunciador uma alma pura e honesta para consigo própria, para com princípios de vida elevados e para com os outros. Saber pedir perdão é uma qualidade de almas elevadas, descentradas, conscientes.
Mas, será que não há actos imperdoáveis? Na minha opinião sincera, há, de facto, circunstâncias imperdoáveis, nomeadamente quando, depois de a mesma falha do ofensor ser perdoada vezes sem conta pelo ofendido, esta se repetir até à exaustão, contextualizada num registo de arrogância, egoísmo animalesco, má formação moral e, claro, desrespeito pelos direitos do próximo. O que fazer aí? Mostrar, pedagógica e firmemente os limites ao ofensor, uma vez que este tipo de indivíduos, uma vez que se guiam, primordialmente, pelos seus instintos e não pela sua consciência, se não encontrarem resistência à sua maldade, continuarão a fazer vítimas durante o seu percurso vivencial muito apegado à sombra. Todavia, a imperdoabilidade destes actos deve ser externa, i.e, deve parecer ao ofensor que assim seja, porque, no nosso íntimo, e para respeitar os preceitos enunciados no post anterior, devemos mesmo é limpar o nosso coração do efeito dessas ofensas e "deixar as más acções com quem as pratica". Mostrar-lhes os limites não é, de facto, vingarmo-nos, apenas é uma forma de nos afastarmos de gente negativa e lhes dizermos que não os queremos por perto.
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