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(Tau-te-King, 16)


terça-feira, 28 de agosto de 2007

Homenagem a Dalai Lama: passagens de "Siddhartha" de Hermann Hesse

Cap: "Com os Samanas"

"(...) Siddhartha sentou-se direito e aprendeu a controlar a sua respiração, aprendeu a necessitar de menos ar, aprendeu a esquecer a respiração. Aprendeu, começando com a respiração, a acalmar o bater do seu coração, a reduzir os seus batimentos, até estes se tornarem escassos e quase nulos.
Ensinado pelo mais velho dos samanas, Siddhartha praticou a anulação de si mesmo, praticou a meditação, de acordo com as novas regras dos samanas. Uma garça voava por cima do bosque de bambu - e Siddhartha acolhia a garça na sua alma, voava sobre o bosque e sobre os montes, era uma garça, comia peixe, sofria a fome das garças, falava a língua das garças, morria a morte das garças. Um chacal morto jazia na areia da margem e a alma de Siddhartha penetrava na sua carcaça, era um chacal morto, jazia na praia, inchava, fedia, apodrecia, era despedaçado pelas hienas, era esfolado pelos abutres, tornava-se esqueleto, tornava-se poeira, espalhava-se pelos campos. E a alma de Siddhartha regressava, morria, apodrecia, desfazia-se em pó, experimentava a embriaguez tumultuosa deste ciclo, esperava, com renovada sede, como um caçador no seu buraco, a maneira de escapar ao ciclo, o final das origens, o início da eternidade indolor. Matava os seus sentidos, matava as suas recordações, afastava-se do seu Eu sob mil formas diversas, era animal, era cadáver, era pedra, era madeira, era água, e acordava de todas as vezes, brilhavam o sol ou a lua, era novamente Eu, misturava-se com o ciclo, sentia sede, vencia a sede, sentia sede de novo" (...)

Hermann Hesse, Siddhartha: Um Poema Indiano, Cruz Quebrada, Casa das Letras, 2007, pp.22-23

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