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(Tau-te-King, 16)


segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Homenagem a Dalai Lama: passagens de "Siddhartha" de Hermann Hesse

Cap: "Com os Samanas"

"Na tarde desse dia foram recebidos pelos ascetas, pelos severos samanas, e ofereceram-lhes a sua companhia e obediência. foram aceites.
Siddhartha ofereceu o seu trajo a um brâmane pobre que encontrou na estrada. Agora vestia apenas a tanga e a capa simples cor de terra. Comia apenas uma vez por dia e nada que fosse cozinhado. Jejuou durante quinze dias. Jejuou durante vinte e oito dias. A carne desapareceu das suas pernas e do rosto. Sonhos ardentes tremeluziam nos seus olhos enormes, nos seus dedos secos as unhas tornaram-se compridas e no seu queixo cresceu uma barba áspera e hirsuta. O seu olhar era gelado, quando observava as mulheres; a sua boca enchia-se de desdém, quando atravessava uma cidade cheia de pessoas bem vestidas. Via mercadores a negociar, príncipes a caminho das caçadas, pessoas enlutadas chorando os seus mortos, prostitutas que se ofereciam a ele, médicos ocupados com os seus doentes, sacerdotes a determinarem o dia para as sementeiras, amantes a amarem, mães a embalarem os seus filhos - e tudo isto nada valia a seus olhos, tudo mentia, tudo cheirava mal, tudo cheirava a mentiras, tudo fingia sentido e sorte e beleza, tudo era uma oculta podridão. O mundo tinha um sabor amargo. A vida era sofrimento.
Siddhartha tinha um único objectiivo: ficar vazio, vazio de sede, vazio de desejo, vazio de sonho, vazio de alegria e de tristeza. Deixar-se morrer, não ser mais Eu, encontrar a paz de um coração vazio, descobrir o milagre do pensamento puro, era o seu objectivo. Quando a totalidade do Eu estiver dominado e morto, quando todos os vícios e inclinações desaparecerem do coração, então despertará o mais profundo do Ser, aquilo que já não é o Eu, o grande segredo."

Hermann Hesse, Siddhartha: Um Poema Indiano, Cruz Quebrada, Casa das Letras, 2007, pp.21-22.

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