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(Tau-te-King, 16)


domingo, 3 de janeiro de 2010

. : repost . : pensamento do dia: a importância do perdão na evolução espiritual de cada um e no alcance da paz de espírito : .


Com as devidas precauções quanto a generalizações, sempre injustas e não representativas da complexidade e riqueza das sociedades humanas, bem como da intemporalidade de certas tendências da natureza do Homem, creio que poderei afirmar que o tipo de organização social que constitui o nosso habitat, nos tempos presentes, conduz muita gente a focalizar-se obsessivamente no sucesso, na riqueza material, no estatuto social e na superação não de si mas do outro, tantas vezes com base na premissa maquiavélica de não se olhar a meios para se atingir os fins e em posturas que privilegiam a arrogância, a prepotência, tiques de um novo-riquismo provinciano, muito estreito à esquizofrénica actualização de complexos de inferioridade disfarçados por outros de superioridade aparente. Neste contexto, palavras como perdão soam, na melhor das hipóteses, a algo démodé, completamente fora de moda e, na pior, são, erroneamente, identificadas como idiossincrasias de espíritos fracos, que não revelam a energia vital necessária à luta feroz por “um lugar ao sol”, à afirmação ostensiva e agressiva da sua presença perante o olhar alheio. Interessante será notar que essas posturas de vida plenas de petulância e, como tal, tão menores, vêem na força fraqueza e na fraqueza força, subestimando o poder da interioridade luminosa alheia, o único verdadeiramente invencível!
Analisando, diacronicamente, a expressão “um lugar ao sol”, hoje tão materializável, podemos verificar que, paradoxalmente, o Sol, em termos mitológicos, está intemporal e transculturalmente associado à Luz divina, à iluminação interior e, filosoficamente, à sabedoria autêntica, que conduz o Homem ao Bem.
Lembremo‑nos, a propósito, da Alegoria da Caverna de Platão, que enuncia a tendência intemporal do homem para se submeter à escravatura das sombras e aprisionar-se em cavernas, não vendo nem o Sol, nem os outros, renegando a realidade ( e o que será isto da realidade, se cada um de nós é um mundo que vislumbra o mundo de forma tão subjectiva?), sobrepondo a importância da aparência à da essência, do conhecimento sensível (igualmente importante na perscrutação da vida) à do inteligível, do não ser à do ser (mas o que será o não ser, para além do desconhecimento?), do visível à do invisível, da doxa, da mera opinião ensombrada pela ignorância, à da ciência, da diànoia, da verdade (mas o que será a verdade, senão uma súmula de perspectivas sobre a realidade?), do Sol e dos astros, da noèsis, do conhecimento do ser, que implica a sua alteridade e diversidade e a de todos os seres entre si.
Mas, no seguimento deste raciocínio platónico, poder-se-á invocar- será que os que só vêem as sombras não serão mais felizes? Penso que esta dúvida percorre transversal e recorrentemente a mente de muita gente! Será que a sabedoria traz felicidade ao Homem? Bem, respondo, inequivocamente, que sim a esta última questão, porque sabedoria distingue-se de conhecimento, é um conceito muito mais lato que envolve a ética como um dos seus pressupostos basilares, dimensão essencial ao alcance da felicidade. Sendo assim, urge distinguir as noções de acumulação de conhecimentos e de informação, de sabedoria!
Mas, entendendo simplisticamente a ética como um conjunto de princípios que nos protege da desordem, não se poderá invocar que um pouco de caos, de disrupção, nas nossas vidas, será fundamental para despoletar em nós capacidades como a da criatividade (artística, pragmática, vivencial) e conduzir-nos a esse estado de graça tão almejado por uma sociedade devotada ao carpe diem- a felicidade terrena? Isto porque a ordem integral soa sempre a algo demasiado asséptico, que nega ao ser humano estados mais criativos e libertos da razão como censora! Bem, neste caso, devo explicitar que concebo dois significados opostos para caos: (a) o caos como energia criativa indomável, associado à inspiração desenfreada que nos é oferecida, por vezes, promissoramente, num estado de graça único e irrepetível, pelos nossos sentidos enquanto coadjuvantes da nossa racionalidade (b) o caos ligado a energias extremamente negativas que conduzem alguns seres humanos a cultivar sentimentos e comportamentos nefastos, desejando avidamente amesquinhar e infernizar vidas alheias, acabando, impreterivelmente, por conduzirem-se a si próprios ao inferno da inquietação e do mal-estar constante.

E o que é que tudo isto tem a ver com o perdão? Tudo, digo eu. O perdão é fruto de uma postura sábia na vida que conduz o sujeito a superar-se a si próprio, renegando sentimentos extremamente negativos como o ressentimento e o rancor, em benefício de outros bafejados com a luz da descentração, da evolução espiritual, do Amor ao Próximo como a si mesmo. O perdão é um acto espiritual higiénico, pois quem perdoa limpa o seu coração de impurezas sempre maléficas no percurso de uma alma que deseja evoluir aprimorando-se. Mas será que perdoar é esquecer? Não, no meu ponto de vista, se alguém perdoa alguém por algo porque o esquece não põe em prática a verdadeira concepção de perdão, que se baseia numa memória apurada, mas também depurada de sentimentos que só prejudicam o sujeito.

Em suma, quando alguém nos faz mal e despoleta em nós desejos recorrentes de vingança, esse alguém é-nos duplamente nefasto, pois não só conseguiu ferir-nos num determinado momento, como alcançou a proeza de prolongar os efeitos desse momento infeliz ao longo da existência de quem converteu a mágoa em rancor- nós. Se perdoarmos o nosso ofensor, se o olharmos com comiseração e condescendência, compreendendo que esse alguém, ao agir de determinada forma egoísta, maléfica, desleal, não mais fez do que se diminuir a si próprio (a), então, livrar-nos-emos da sua sombra. E a circunstância de nos livrarmos, higienicamente, da sua sombra permite-nos encarreirar no caminho para a felicidade, deixando o nosso agressor entregue somente à Justiça Divina, Cósmica ou Vivencial, conforme os credos e ideologias, sempre Implacável e devidamente proporcional ao(s) acto(s) praticado(s), aliás.
Costuma dizer-se que "a vingança se serve fria", eu prefiro afirmar que o desejo de vingança e a sua actualização enregela o coração, minando e destruindo o percurso de quem a escolhe como objectivo vivencial! O desejo de vingança impede o homem de cultivar a sua luminosidade interior, de atingir uma verdadeira evolução espiritual pela auto-superação, de canalizar a sua vitalidade para o Bem, para a contrução dignificante do seu percurso, de atrair, como se afirma n`O Segredo, energias positivas que lhe permitam ser feliz e fazer os outros felizes.

2 comentários:

encantos disse...

li devagarinho e com att. Muito denso e 'importañte ' para mim.

Isabel Metello disse...

Vou anotar a crítica :) e tentar reformular o discurso numa próxima...muito obrigada por cá ter passado...é sempre um prazer! Abç amigo