Ontem, assisti ao Alice no País das Maravilhas de Tim Burton e fiquei, mais uma vez, fascinada com a reformulação de um universo mítico que faz parte da nossa memória colectiva, pela mente de um homem que recicla mitos urbanos de génese literária com mestria. Este subversivo realizador (re)cria um universo simbólico com tipificações que, no entanto, não redundam numa simplificação ou entediante repetição, mas tão só numa soberba esteticização que acompanha uma narrativa riquíssima em termos simbólicos: (a) a Rainha de Copas, símbolo do egoísmo animalesco e despótico que todos subjuga, pelas frustrações devidas a uma anomalia mais espiritual que física, despoletada por uma cabeça descomunal num coração negro disfarçado de vermelho, que a faz nutrir um rancor profundo e uma inveja abjecta pela beleza exterior e interior de sua Irmã- a Rainha Branca. Símbolo da inveja caótica feminina que tudo destrói e a tudo quer reduzir a sua fealdade interior, disseminando pelos outros o horror que o espelho lhe devolve, pelo despeito de ver outrem objecto do desejo que anseia para si. Impossibilitada de desfrutar do poder de provocar o desejo n´ outrem usurpa, pela vileza e força bruta, o poder terreno que lhe garante a subserviência de almas vis como a sua, que manipulam a sua maior fraqueza- a menoridade de uma cabeça disforme por si mesma a priori decapitada. O rubro naipe das copas transformado em logótipo omnipresente do reino do Mal que todos dilacera com a sua brutalidade. A cor de Afrodite, aqui, a designar o desejo recalcado de quem só consegue ser desejada pela manipulação alheia, pela anulação do outro., pela auto-degradação ao deliciar-se com o sofrimento alheio. Cada decapitação, sob a sua ordem em jeito de slogan- "Off with his head!"-,
representa o seu próprio anseio de se ver amputada da malformação que lhe augura o ódio ao mundo, que eleva a bandeira o seu coração sangrado e reciclado em fúria na sua missão cobarde, despótica e, alarvemente, destruidora do Outro! O único ser que ama é quem mais a odeia (b) o Cavaleiro Negro, um homem descomunalmente alto e magro com um coração negro como breu, que bajula esta aberração da natureza com o desejo implícito de a destruir, pela repugnância que lhe inspira a sua presença. Enfim, outro ser nefasto que faz da morte a sua vida, ao eleger o seu ego despótico e repugnante a bússola existencial. Cavaleiro das trevas que estimula na Rainha de Copas a compensação maquiavélica de ser-se temido perante a impossibiliade de se ser amado; (d) o magnífico Chapeleiro, um resistente que camufla a sua resiliência à dor e à barbárie, pela loucura, bastas vezes, simulada, que defende ser a característica comum às melhores pessoas do mundo, uma verdade intemporal, se encaramos esta loucura como a coragem para perscrutar o mundo de forma distinta daquela pela qual nos querem moldar a mente, a bravura de se pugnar por ideais altruístas que nos permitam elevar a alma, dirimindo a força brutal e nefasta do ego... ;
(e) a Rainha Branca, a pureza de alma cuja ética vivencial a faz amar a vida acima de qualquer valor, mesmo a da sua irmã, que tanto ódio lhe nutre, cujo respeito pelo próximo a faz defender que a cada qual pertence a decisão do seu percurso personalizado, mesmo que esta implique a sua auto-aniquilação;
(f) a pequena grande Alice, cujo berço de ouro moldado por valores sólidos e cuja memória honrada de seu Pai a faz recusar um futuro domesticado e abjecto de alguém que vende a honra por vãs e apócrifas mundanas honrarias. O que parece ser um pesadelo recorrente desde a tenra infância, um buraco negro que a transporta para uma terra misteriosa onde os animais falam e onde existem poções mágicas que encolhem e esticam, transforma-se na divina oportunidade de se (re)encontrar e de assumir a sua missão vivencial. Pequena no mundano mundo, heroína na terra dos seus sonhos, cuja inocência vital móbil de uma pujante valentia é prenunciada por um Oráculo que a afirma como a salvadora daqueles universo e seres fantásticos. Uma diva feminina cujos traços distintivos são em todo congruentes com o dia que acabámos de festejar em honra da emancipação feminina. Eppur se muove!
Enfim já falei (?) demais, é melhor irem ver esta obra cinematográfica que considero magnífica!
E "o que é que um corvo tem de comum com uma secretária?" O que a nossa imaginação nos permitir, porque o tempo, essa dimensão moldada por Mãos Divinas, sabe transformar lagartas em borboletas se estas se recolherem ao casulo a tempo!
representa o seu próprio anseio de se ver amputada da malformação que lhe augura o ódio ao mundo, que eleva a bandeira o seu coração sangrado e reciclado em fúria na sua missão cobarde, despótica e, alarvemente, destruidora do Outro! O único ser que ama é quem mais a odeia (b) o Cavaleiro Negro, um homem descomunalmente alto e magro com um coração negro como breu, que bajula esta aberração da natureza com o desejo implícito de a destruir, pela repugnância que lhe inspira a sua presença. Enfim, outro ser nefasto que faz da morte a sua vida, ao eleger o seu ego despótico e repugnante a bússola existencial. Cavaleiro das trevas que estimula na Rainha de Copas a compensação maquiavélica de ser-se temido perante a impossibiliade de se ser amado; (d) o magnífico Chapeleiro, um resistente que camufla a sua resiliência à dor e à barbárie, pela loucura, bastas vezes, simulada, que defende ser a característica comum às melhores pessoas do mundo, uma verdade intemporal, se encaramos esta loucura como a coragem para perscrutar o mundo de forma distinta daquela pela qual nos querem moldar a mente, a bravura de se pugnar por ideais altruístas que nos permitam elevar a alma, dirimindo a força brutal e nefasta do ego... ;
(e) a Rainha Branca, a pureza de alma cuja ética vivencial a faz amar a vida acima de qualquer valor, mesmo a da sua irmã, que tanto ódio lhe nutre, cujo respeito pelo próximo a faz defender que a cada qual pertence a decisão do seu percurso personalizado, mesmo que esta implique a sua auto-aniquilação;
(f) a pequena grande Alice, cujo berço de ouro moldado por valores sólidos e cuja memória honrada de seu Pai a faz recusar um futuro domesticado e abjecto de alguém que vende a honra por vãs e apócrifas mundanas honrarias. O que parece ser um pesadelo recorrente desde a tenra infância, um buraco negro que a transporta para uma terra misteriosa onde os animais falam e onde existem poções mágicas que encolhem e esticam, transforma-se na divina oportunidade de se (re)encontrar e de assumir a sua missão vivencial. Pequena no mundano mundo, heroína na terra dos seus sonhos, cuja inocência vital móbil de uma pujante valentia é prenunciada por um Oráculo que a afirma como a salvadora daqueles universo e seres fantásticos. Uma diva feminina cujos traços distintivos são em todo congruentes com o dia que acabámos de festejar em honra da emancipação feminina. Eppur se muove!
Enfim já falei (?) demais, é melhor irem ver esta obra cinematográfica que considero magnífica!
E "o que é que um corvo tem de comum com uma secretária?" O que a nossa imaginação nos permitir, porque o tempo, essa dimensão moldada por Mãos Divinas, sabe transformar lagartas em borboletas se estas se recolherem ao casulo a tempo!
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