Sei que, se o meu Pai ler isto, "fuzila-me" (Graças a Deus que não é muito afoito às NTIC, mas, de qualquer das formas, sabe a filha que tem- desde muito cedo, que formei as minhas opiniões muito próprias e as enunciei com frontalidade e ele assim mo ensinou a estar e ser ...), afinal, já atingiu os 80 anos e, com essa idade, tudo é desculpável- outros tempos, outra mentalidade.
O que não consigo perceber é o facto de pessoas jovens e com um nível cultural aceitável terem o mesmo tipo de opinião quanto a esta delicada questão que, a meu ver, nem se deveria pôr, se estivéssemos num país verdadeiramente civilizado, onde os direitos individuais inalienáveis de cada um deveriam ser respeitados a qualquer custo, mas enfim, sabemos que a periferia, geralmente, está associada ao provincianismo de aldeia, tantas vezes disfarçado de um cosmopolitismo bacoco...
Bom, aqui vai: como heterossexual que sou, não tenho de impor a minha orientação a alguém, nem permito o contrário, mas respeito as orientações alheias, desde que o façam com adultos e com o consentimento mútuo. O que é que eu tenho a ver com a intimidade de outrem? Nada...O que é que me afecta se A tem uma relação com B ou C, desde que esse A não tenha alguma relação amorosa comigo? Nada...
Por que é que um casal de homossexuais que se amam não há-de ter o direito de oficializar a sua relação, como outra união conjugal qualquer? Por que é que o estigma da promiscuidade se aplica de forma estereotipada aos homossexuais, quando sabemos que, hoje, grande parte dos casamentos entre pessoas de sexo oposto ruem por infidelidade(s) contínua(s) e recursiva(s), por vezes, envolvendo situações completamente degradantes e até desviantes? E até mais: frequentemente, envolvendo relações paralelas homossexuais por parte de indivíduos não assumidos, publicamente, muito latinamente machos e avessos a irregularidades...Essa, então, é demais! E aposto que muitos destes meninos, que protagonizam "casamentos de fachada exemplares", tantas vezes, sujeitanto as companheiras a DSTs, são os primeiros a gritar a todos os pulmões contra a vontade legítima de constituir um lar e uma família de quem, dignamente, se assume e, honestamente, vive de acordo com a suas opções vitais, sem prejudicar quem quer que seja...
E até porque, como afirma um amigo meu, a palavra casamento vem da vontade de criar um lar, uma casa, a palavra matrimónio é que está religiosamente conotada ao sacramento que é o "santo casamento" (santidade, hoje, muito duvidosa, em termos estatísticos, pelo menos...). E mesmo que o não fosse- as palavras evoluem semanticamente com o tempo- como por ex. a palavra ministro que de "aquele que serve" passou a significar "aquele que é servido, que manda"...O que interessa uma palavra perante três dos princípios fundamentais de qualquer sociedade civilizada? - os da igualdade de oportunidades entre os cidadãos, de expressão de orientações ideológicas individuais (religiosas, políticas, sexuais, etc) e do respeito que deve prevalecer sobre a privacidade de cada membro desta organização colectiva.
Por que é que se nega o direito à adopção a pessoas que estão dispostas a dar Amor a uma criança, só porque as mentes iluminadas prevêem que o infante sofrerá o estigma de ter dois Pais ou duas Mães no processo de socialização na Escola? Por que é que em vez de se atacar a consequência nefasta de uma sociedade provinciana e quadrilheira, não se atacam as bases desta mediocridade? O que seria correcto seria promover-se nas Escolas e até em casa, com dignidade, o princípio da igualdade e do respeito pela vida e opções do Próximo, desde que estes não prejudiquem alguém (lá está- a defesa da liberdade, que deveria acabar aonde a do outro começa...), e não o julgamento completamente anti-pedagógico de senso comum, muito estreito à ignorância mais básica, profundamente injusto e cruel, esse sim que vai contra a Palavra de Deus, contra Aquilo que Jesus nos Ensinou, a "Amar o Próximo como a nós mesmos" e a não julgar o Outro com base na leviandade ...
Perguntem a uma criança abandonada em qualquer instituição estatal, sujeita, pelo que tem vindo a lume nos media, muitas vezes, às taras de, esses sim, pervertidos anormais e animalescos, se não preferiria viver num lar amada e respeitada por duas pessoas do mesmo sexo, que se tinham juntado por Amor... Se fosse eu, diria logo que sim e que defenderia os meus Pais ou as Minhas Mães, aqueles que me dariam carinho e me resgatariam da solidão, do abandono, ou até mesmo dos maus tratos de frustrados, tantas vezes heterossexuais, até à última gota de sangue e isso até me daria maturidade para, no futuro, saber distinguir o que é o Bem e o Mal, o que é a coragem e a cobardia, o que é a decência e a desistência de si e a insolência acefalizante... Responderia que com as insinuações maldosas de mentes menores poderia eu bem, até porque os pobres de espírito tendem sempre a gozar com os outros, uma vez que não detêm um grau de inteligência suficiente nem uma abertura de espírito profícua que os conduza ao respeito pelo outro e à auto-ironia...
Portanto, ter Pais homossexuais ou sofrer de obesidade, neste país, onde o bullying é uma prática corrente nos locais de Ensino, completamente ignorada, constituirá o mesmo tipo de impulso para estas mentes pequeninas pequeno-burguesamente formatadas ferirem e humilharem alguém...O que é que se faz, então, às crianças obesas? São doadas? teriam de ser sujeitas a um processo de emagrecimento forçado? E os feios, Meu Deus, o que faríamos a quem não correspondesse aos mitos de beleza actuais? Obrigá-los-íamos a ir a algum reality show que envolvesse práticas radicais de cirurgia estética?
Tenham dó...Não, o que se deveria fazer era atacar a causa destes comportamentos cobardes e ultrajantes, porque essencialmente malvados: educar estas mentes perversas, mesquinhas, parolas, enfim, que ainda não aprenderam que a perversão é, frequentemente, uma causa directa da repressão, muito adstrita à ignorância.
Por isso, se a questão estivesse sujeita a sufrágio, votaria inequivocamente SIM, claro, e, em termos cívicos, até me repugnaria ter de fazê-lo para legitimar a concessão de um direito a alguém, que julgo não deveria estar à mercê das opiniões alheias, tantas vezes assentes em preconceitos completamente estapafúrdios e em opiniões de cafetaria...Mas, enfim...Votaria SIM...
Quotidianamente, tento fazer muito mais do que isso- tento ensinar a minha filha a respeitar os outros e as suas opções individuais, que não envolvam o prejuízo de outrem, e a não julgá-los de acordo com as suas próprias idiossincrasias...A minha maior ambição para a minha filha é que ela seja, sempre, um ser do Bem, uma alma pura, cumpridora da Palavra de Deus, enfim, um ser humano decente. O resto são pormenores...
Essa sim, creio que é a melhor forma de fazer evoluir esta sociedade ainda tão manietada por um provincianismo completamente acefalizante...
PP: publico este post em honra de todos os Meus Amigos homossexuais, que vivem dignamente a sua orientação sexual e que dão lições de dignidade a muitos heterossexuais que, aparentemente, muito fiéis e respeitadores da "moral e dos bons costumes", nos bastidores, portam-se como uns autênticos devassos animalescos em processo de rapina constante... Faça-se Luz antes de termos como destino inexoravelmente intemporal as trevas medievalizantes...