A propósito de uma crónica de um semanário que costumo ler com regularidade por apreciar o estilo e a honestidade intelectual da autora. Versa uma das últimas sobre a coragem.
Concordo em absoluto com o que escreve, menos num singelo aspecto- quando afirma que a coragem é avessa à indignação e ao isolamento. Em relação à ira, subscrevo plenamente o que afirma, pois é um sentimento menor muito próximo do ódio e da inveja, próprio de criaturas mesquinhas. Quanto aos outros dois estados de alma, tenho as minhas sérias dúvidas.
A coragem afirma-se como um sentimento nobre que advém da anulação do ego em prol de valores e princípios elevados como a solidariedade, da pujança inexpugnável da consciência de indivíduos verticais, com a coluna vertebral bem "firme e hirta como uma barra de ferro", sobre instintos mais básicos como o medo ou o apelo da voz da sobrevivência. Por conseguinte, a coragem é, antes de mais, um estado de alma que implica necessariamente o isolamento, mesmo que a sua actualização reverta, por princípio, em benefício de outros ou de valores basilares que contribuem para a evolução do próprio, como da comunidade. A coragem é o fruto da consciência que se encontra consigo própria, na luta contra o ego instintivo tanto da fonte com do alvo. A coragem emerge quando alguém, em silêncio, regressa à sua essência e a sobrepõe aos interesses mundanos próprios e alheios. Ser-se corajoso é, antes de mais, defender o inoportuno no momento mais inadequado pela pressão de um carácter isolado, é avançar contra 100 ou 100.000 pessoas, ainda que de forma pacífica e solitária, com palavras e actos, que se sabe terem consequências nefastas. E friso a forma solitária desta postura invulgar pela singela circunstância de que o vulgo ser humano (e quando digo vulgo, refiro-me à raiz etimológica do vocábulo, não no sentido mais usado – de povo-, mas do que é comum, vulgar) só se junta ao corajoso ou quando o desespero já não lhe dá outra alternativa, ou quando pressente que ao corajoso o espera os louros da vitória. I. e., renegando a pópria essência primordial do acto e da fala do corajoso, pois a “Maria vai com as outras” fá-lo por instinto, dado que os interesses privados estão quase sempre associados à dimensão instintiva, ao ego humanos.
O corajoso é alguém que detém, assim, a capacidade para, in extremis, reger-se pela máxima: "vale mais ficar só, mas apaziguado com a minha consciência, do que vergar a coluna e esta circunstância perseguir-me até ao final dos meus dias". Ser-se corajoso é, fundamentalmente, vencer o medo de se ficar sozinho no meio da multidão e verbalizar-se a indignação contra o que se considera imoral ou ultrajante. É ter-se a capacidade para se "dar o peito à bala", mesmo quando se tem consciência que ela nos pode trespassar a existência.
Assim, os “heróis” beige, prêt-a-porter, auto-investidos e auto-elogiosos, não são corajosos, nem sabem o que isso é, nem querem saber, têm demasiado apego à sua pele para a arriscarem no jogo. São apenas egos despóticos que sabem conduzir as massas e cuja vaidade e soberba lhes incute uma sede insaciável do aplauso alheio! São chico-espertos que manipulam os bons sentimentos dos outros em seu próprio proveito, ficando ainda com a benesse de receberem o epíteto de corajosos pelos papalvos. As almas maiores, nobres, corajosas, a maior parte das vezes solitárias na sua luta, distinguem-se dos heróis menores que só sabem mostrar coragem ou quando não têm noção do perigo, ou quando têm as costas bem requentadas! É tão fácil ser-se "corajoso" com um colete à prova de bala, com a rectaguarda bem defendida! O carácter de cada homem e mulher, e até das crianças, vê-se nos momentos mais difíceis, pois, nos momentos fáceis, é tão cómodo ser-se corajoso em palco, quando se sabe que se tem uma rectaguarda inexpugnável nos bastidores.
Todos os corajosos são, assim, por definição, seres isolados e indignados, porque ou são assistémicos por natureza, porque a sua essência os conduz imperiosamente a nadarem contra a corrente, tendo consciência dos riscos de perecerem afogados pelas ondas gigantescas da cobardia alheia; ou porque, por breves momentos, se convertem em seres que renegam o sistema.
Claro que a História nos mostra que muitos Homens verdadeiramente corajosos, como Jesus, Mahatma Gandhi, o Senhor Cônsul Aristides de Sousa Mendes, Camões, Martin Luther King, Vera Lagoa, Oscar Wilde, puderam ter encantado, no momento ou a posteriori (o encanto posterior e à distância não de um click, mas de ruídos menos agradáveis ao ouvido, é sempre o mais fácil), mais ou menos multidões com o seu carisma, com o seu carácter impoluto, com a sua elevada espiritualidade, mas o primeiro passo Deram-no sozinhos, isolados, a sua consciência individual é que os Fez escolher o Caminho, é que Os fez destemidos! Aliás, quase todos Eles Pagaram bem caro a Sua Coragem, com a Sua Vida, com o Seu Sofrimento, com a Sua Solidão, com o seu Desalento- criaram inimigos mortais naqueles que acusavam, ou incomodavam com a sua verticalidade cristalina, que, como é próprio dos cobardes, os atacaram ou à traição ou diluindo as suas fraquezas em grupo. E como toda a gente sabe, 1100 fraquezas de cobardes juntos em matilha têm uma força bruta muito possante a curto prazo, embora tão frágil in long terms!
Concordo em absoluto com o que escreve, menos num singelo aspecto- quando afirma que a coragem é avessa à indignação e ao isolamento. Em relação à ira, subscrevo plenamente o que afirma, pois é um sentimento menor muito próximo do ódio e da inveja, próprio de criaturas mesquinhas. Quanto aos outros dois estados de alma, tenho as minhas sérias dúvidas.
A coragem afirma-se como um sentimento nobre que advém da anulação do ego em prol de valores e princípios elevados como a solidariedade, da pujança inexpugnável da consciência de indivíduos verticais, com a coluna vertebral bem "firme e hirta como uma barra de ferro", sobre instintos mais básicos como o medo ou o apelo da voz da sobrevivência. Por conseguinte, a coragem é, antes de mais, um estado de alma que implica necessariamente o isolamento, mesmo que a sua actualização reverta, por princípio, em benefício de outros ou de valores basilares que contribuem para a evolução do próprio, como da comunidade. A coragem é o fruto da consciência que se encontra consigo própria, na luta contra o ego instintivo tanto da fonte com do alvo. A coragem emerge quando alguém, em silêncio, regressa à sua essência e a sobrepõe aos interesses mundanos próprios e alheios. Ser-se corajoso é, antes de mais, defender o inoportuno no momento mais inadequado pela pressão de um carácter isolado, é avançar contra 100 ou 100.000 pessoas, ainda que de forma pacífica e solitária, com palavras e actos, que se sabe terem consequências nefastas. E friso a forma solitária desta postura invulgar pela singela circunstância de que o vulgo ser humano (e quando digo vulgo, refiro-me à raiz etimológica do vocábulo, não no sentido mais usado – de povo-, mas do que é comum, vulgar) só se junta ao corajoso ou quando o desespero já não lhe dá outra alternativa, ou quando pressente que ao corajoso o espera os louros da vitória. I. e., renegando a pópria essência primordial do acto e da fala do corajoso, pois a “Maria vai com as outras” fá-lo por instinto, dado que os interesses privados estão quase sempre associados à dimensão instintiva, ao ego humanos.
O corajoso é alguém que detém, assim, a capacidade para, in extremis, reger-se pela máxima: "vale mais ficar só, mas apaziguado com a minha consciência, do que vergar a coluna e esta circunstância perseguir-me até ao final dos meus dias". Ser-se corajoso é, fundamentalmente, vencer o medo de se ficar sozinho no meio da multidão e verbalizar-se a indignação contra o que se considera imoral ou ultrajante. É ter-se a capacidade para se "dar o peito à bala", mesmo quando se tem consciência que ela nos pode trespassar a existência.
Assim, os “heróis” beige, prêt-a-porter, auto-investidos e auto-elogiosos, não são corajosos, nem sabem o que isso é, nem querem saber, têm demasiado apego à sua pele para a arriscarem no jogo. São apenas egos despóticos que sabem conduzir as massas e cuja vaidade e soberba lhes incute uma sede insaciável do aplauso alheio! São chico-espertos que manipulam os bons sentimentos dos outros em seu próprio proveito, ficando ainda com a benesse de receberem o epíteto de corajosos pelos papalvos. As almas maiores, nobres, corajosas, a maior parte das vezes solitárias na sua luta, distinguem-se dos heróis menores que só sabem mostrar coragem ou quando não têm noção do perigo, ou quando têm as costas bem requentadas! É tão fácil ser-se "corajoso" com um colete à prova de bala, com a rectaguarda bem defendida! O carácter de cada homem e mulher, e até das crianças, vê-se nos momentos mais difíceis, pois, nos momentos fáceis, é tão cómodo ser-se corajoso em palco, quando se sabe que se tem uma rectaguarda inexpugnável nos bastidores.
Todos os corajosos são, assim, por definição, seres isolados e indignados, porque ou são assistémicos por natureza, porque a sua essência os conduz imperiosamente a nadarem contra a corrente, tendo consciência dos riscos de perecerem afogados pelas ondas gigantescas da cobardia alheia; ou porque, por breves momentos, se convertem em seres que renegam o sistema.
Claro que a História nos mostra que muitos Homens verdadeiramente corajosos, como Jesus, Mahatma Gandhi, o Senhor Cônsul Aristides de Sousa Mendes, Camões, Martin Luther King, Vera Lagoa, Oscar Wilde, puderam ter encantado, no momento ou a posteriori (o encanto posterior e à distância não de um click, mas de ruídos menos agradáveis ao ouvido, é sempre o mais fácil), mais ou menos multidões com o seu carisma, com o seu carácter impoluto, com a sua elevada espiritualidade, mas o primeiro passo Deram-no sozinhos, isolados, a sua consciência individual é que os Fez escolher o Caminho, é que Os fez destemidos! Aliás, quase todos Eles Pagaram bem caro a Sua Coragem, com a Sua Vida, com o Seu Sofrimento, com a Sua Solidão, com o seu Desalento- criaram inimigos mortais naqueles que acusavam, ou incomodavam com a sua verticalidade cristalina, que, como é próprio dos cobardes, os atacaram ou à traição ou diluindo as suas fraquezas em grupo. E como toda a gente sabe, 1100 fraquezas de cobardes juntos em matilha têm uma força bruta muito possante a curto prazo, embora tão frágil in long terms!